Este relato propôs uma análise de aspectos da violação do Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) a partir de experiências de entregadores de aplicativos relacionadas à alimentação no município de São Paulo, retratadas em materiais jornalísticos na pandemia de COVID-19, publicados até setembro de 2020. Este trabalho se configurou como estudo de caso em uma disciplina de graduação em Nutrição, por meio de um projeto com foco em situações de desigualdade e vulnerabilidade. Foram selecionados materiais com registros de práticas e/ou demandas alimentares dos entregadores associadas às atividades trabalhistas. O conteúdo foi discutido através da definição do DHAA, considerando recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira e discussões da sociologia do trabalho. Como resultados, aspectos de violação do DHAA foram notados para a garantia ao acesso a alimentos em quantidade e qualidade, com grande consumo de ultraprocessados; práticas alimentares inadequadas no que concerne ao ato de comer e à comensalidade, com preponderância da necessidade de “matar a fome”; e a inserção dos entregadores em um sistema alimentar injusto no âmbito das relações trabalhistas e insustentável em aspectos ambientais e de saúde. Por meio do reconhecimento das circunstâncias de fome e de demandas apresentadas pelos entregadores, esta análise ressaltou o potencial humanizador da alimentação em estimular reivindicações, especialmente no contexto pandêmico e de retirada de direitos trabalhistas, além de destacar a necessidade de construir condições de trabalho, em conjunto a políticas públicas que mitiguem a fome e injustiça, com vistas à promoção de ambientes e sistemas alimentares saudáveis.