Neste artigo descrevo o processo de tradução da canção Zumbi, composta e gravada por Jorge Ben Jor em 1974 e regravada por Ellen Oléria em 2013, para a língua brasileira de sinais (Libras). O pano de fundo social e intersubjetivo para essa tradução é a minha relação, como homem afro-indígena, com a minha própria ancestralidade e, como tradutor e intérprete de língua de sinais, com a falta de acesso da comunidade surda, por questões educacionais e linguísticas, à cultura afro- brasileira e, por questões sensoriais e culturais, às músicas populares brasileiras massivas. Essa dupla dimensão identitária se imbrica na possibilidade de publicizar manifestações antirracistas e de defesa de pautas étnico-raciais no Dia da Consciência Negra em plataformas de amplo acesso como as das redes sociais. A tradução comentada aqui apresentada fundamenta- se, teoricamente, na concepção bakhtiniana de linguagem, que entende que qualquer semiose é atravessada, constituída e sustentada na alteridade e nas dimensões social, histórica e ideológica, o conceito camposiano de transcriação, que assume que a complexidade de um texto amplia as possibilidades transcriativas do tradutor e o conceito de intermodalidade presente nos Estudos da Tradução e da Interpretação da Língua de Sinais (ETILS), que observa a impossibilidade de cisão entre texto e corpo em línguas de modalidade gesto-visual. Descrevo o processo de tradução da canção apontando para os elementos linguísticos e narrativos da canção e da versão em Libras evidenciando as referências visuais que sustentaram as escolhas linguístico-discursivas no texto-alvo.