INTRODUÇÃOA síndrome do intestino curto representa condição clínica muito grave, caracterizada pela deficiente absorção intestinal de nutrientes e que na criança leva ao óbito por desnutrição grave, se não adequadamente tratada. Alguns autores preferem a denominação de "síndrome do intestino encurtado", em virtude do problema ser geralmente decorrente de ressecção de extensos segmentos intestinais. As causas desta síndrome incluem afecções congênitas e adquiridas que resultam em perdas de grandes áreas de superfície de absorção intestinal, tanto in útero quanto pós-natal.Até o final da década de 60, praticamente todas as crianças com esta síndrome faleciam por impossibilidade de suporte nutricional adequado. A partir de 1968, com a descrição do primeiro caso de nutrição endovenosa por tempo prolongado em um recém-nascido com atresias intestinais múltiplas e conseqüente intestino curto congênito, passou-se a se obter índi-ces progressivamente maiores de sobrevida em crianças com esta afecção e outras disfunções intestinais graves. A seguir, graças ao melhor conhecimento dos mecanismos fisiopatológicos da absorção dos nutrientes, percebeu-se a utilidade do uso clínico das dietas elementares, quimicamente definidas e desprovidas de resídu-os, em pacientes com síndrome do intestino curto. Tais dietas foram primariamente formuladas para a primeira viagem do homem à Lua, em 1969.Em 1970, foi descrita pela primeira vez a possibilidade de utilização da nutrição parenteral prolongada no domicílio do paciente. Nos primeiros casos, as soluções nutrientes eram administradas através de shunts venoarteriais, semelhantes aos utilizados para hemodiálise em pacientes com insuficiência renal crônica. Este programa terapêutico foi
Correspondência:Rua Barata Ribeiro, 483 -7º andar CEP: 01308-000 -São Paulo -SP crescimento e desenvolvimento satisfatórios, semelhantes aos obtidos durante nutrição oral. Obstruções do cateter, alterações hepáticas e infecção devida ao cateter foram as complicações mais freqüentes. Sete crianças (37%) sobreviveram e estão fora de tratamento. Doze crianças faleceram (dez com resecção total do intestino delgado), sendo 11 por complicações relacionadas à nutrição parenteral (nove por infecção sistêmica e dois por embolia pulmonar maciça) e uma por complicação neurológica, dois meses após transplante duplo de intestino e fígado.CONCLUSÃO. A nutrição parenteral domiciliar em crianças com síndrome do intestino curto traz indiscutíveis benefícios, permite redução do período de internação hospitalar, tornando possível a adaptação funcional do intestino remanescente e manutenção do estado nutricional com a via oral exclusiva.UNITERMOS: Nutrição parenteral domiciliar. Pediatria. Suporte nutricional. Síndrome do intestino curto.