Na década de 1960, a United States Steel (USS), então a maior siderúrgica do mundo, começou um programa de exploração mineral no Brasil. Neste esforço, o geólogo Breno A. dos Santos foi contratado para comandar a equipe de prospecção de alvos e teve acesso a fotos aéreas do Projeto Araguaia, desenvolvido pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Em meio às fotos, havia o registro de uma região que lhe chamou a atenção, pois apresentava clareiras com vegetação aberta englobadas pela floresta amazônica, o que levantava a possibilidade da presença de afloramentos rochosos na região próxima a Marabá/PA. No dia 31 de julho de 1967, durante uma parada para abastecimento dos helicópteros da expedição, em uma dessas clareiras, Breno martelou blocos de rocha e descreveu: “O pó marrom-avermelhado indicava que a crosta da clareira correspondia a uma canga de minério de ferro”. Este foi o primeiro registro dos platôs de Carajás, embora relatos desde o século XVIII mencionem a existência de serras com vegetação rasteira nas proximidades do rio Itacaiúnas, no que hoje é a conhecida Serra Sul ou platô de S11. Após esta primeira visita, Carajás transformou-se em uma das maiores províncias minerais do mundo e alvo de pesquisas das mais diversas disciplinas, entre elas de botânicos do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) que realizaram coletas botânicas na região menos de dois anos após a descoberta de Carajás. Estas coletas foram lideradas pelo Dr. Paulo Cavalcante e culminaram nas descrições de diversas espécies endêmicas, homenageando-o como Parapiqueria cavalcantei R.M.King & H.Rob, Cavalcantia glomerata R.M.King & H.Rob e Ipomoea cavalcantei D.F. Austin. A paisagem da região mudou drasticamente ao longo dos anos devido ao crescimento populacional impulsionado pelos grandes projetos minerários que se implantaram em Carajás. Estes projetos estão ao redor da área de proteção inicialmente criada como uma área militar e que, somente em 1998, foi elevada a Unidade de Conservação com a criação da Floresta Nacional (FLONA) de Carajás. Atualmente, a FLONA Carajás, Unidade de Conservação de Uso Sustentável, de acordo com o SNUC, tem entre seus objetivos a mineração e a conservação. Embora possam parecer princípios antagônicos, a definição de áreas para a conservação e exploração mineral dentro da UC onde a mineração, uma atividade extrativista, precisa ser reconhecida como sustentável, requer a aplicação de regras para o licenciamento ambiental e para a gestão da UC que considerem estes princípios (Martins et al. 2018). Todavia, a contínua exploração mineral em Carajás tem trazido questionamentos sobre o tamanho das áreas e a viabilidade das populações remanescentes das espécies endêmicas e restritas aos campos rupestres, sendo necessária a adoção de ações focadas na conservação in situ e ex situ para garantir que os riscos de extinção sejam minimizados e a preservação da biodiversidade de Carajás seja garantida.