RESUMO: Objetivo: Um dos maiores desafios no tratamento da hipertensão porta é o sangramento de varizes intestinais. O objetivo deste artigo é apresentar um novo tratamento para hemorragia entérica grave provocada por hipertensão porta cirrótica, utilizando a esplenectomia subtotal combinada com derivação esplenorrenal proximal. Técnica: Uma paciente de 64 anos apresentou sangramento intenso proveniente de varizes em alça jejunal em Y de Roux, para derivação biliodigestiva, após lesão coledociana, complicada com cirrose hepática. O procedimento consistiu em esplenectomia subtotal, preservando o pólo superior do baço, suprido apenas pelos vasos esplenogástricos, e anastomose término-lateral da veia esplênica, em sua extremidade proximal, à veia renal esquerda. Resultados: Esse procedimento foi seguro, sem sangramento maior, dificuldade técnica ou complicação. No acompanhamento de 30 meses, a paciente não teve novos episódios de sangramento, a cirrose não avançou e, atualmente, encontrase bem, sob controle. Conclusão: A esplenectomia subtotal combinada com derivação esplenorrenal proximal é uma boa alternativa operatória para tratar hemorragia proveniente de varizes intestinais, decorrentes de hipertensão porta (Rev. Col. Bras. Cir. 2008; 35(4): 264-268
INTRODUÇÃOEm decorrência de obstrução ao fluxo sangüíneo do sistema porta, ocorre estase, com conseqüente elevação da pressão do sistema venoso, em um quadro conhecido como hipertensão porta, Por ser um fluxo avalvulado, essa elevação pressórica ocorre em todas as veias que direta ou indiretamente drenam para a veia porta. Como as tributárias menores desse sistema não estão preparadas para suportar essa hipertensão, elas dilatam-se e tornam-se tortuosas, formando varizes em todo o sistema digestório, dede o esôfago até o plexo hemorroidário interno.Essa situação é bem suportada pelo organismo e, na maioria dos casos não se acompanha de repercussão clínica alguma. No entanto, em decorrência das doenças que geram esse quadro hipertensivo, podem ocorrer distúrbios mais graves, incluindo hemorragia digestiva. Por características venosas peculiares, a quase totalidade desses sangramentos ocorre no esôfago inferior, cárdia e fundo gástrico.A causa mais comum de hipertensão porta é a cirrose hepática. Aproximadamente metade dos pacientes cirróticos portadores de hipertensão porta desenvolve varizes no esôfago e no estômago. Segundo dados da literatura, cerca de um terço deles poderão evoluir com pelo menos um episó-dio de sangramento por varizes 1,2,3 . Por outro lado, a incidên-cia de sangramentos provenientes de varizes localizadas fora dessa região é muito baixo, girando em torno de 1 % e 5 % 4,5 . Os locais mais freqüentes de hemorragia não-esofagogástrica são os estomas [6][7][8][9][10] . Sangramentos em outras regiões relacionadas com a hipertensão porta são excepcionais.Outra complicação da estase sangüínea no sistema porta é a esplenomegalia, conhecida sob o nome impróprio de hiperesplenismo, em decorrência os valores hematológicos baixos, apesar de não serem ac...