A chegada da pandemia da COVID-19 no Brasil foi seguida pela adoção abrupta de medidas de distanciamento social, reduzindo radicalmente a circulação de indivíduos nas áreas urbanas brasileiras. O relaxamento progressivo de tais medidas, curiosamente, não gerou um aumento do número reprodutivo efetivo (Re) da COVID-19. Nesse estudo, descrevemos a relação temporal entre o Re da COVID-19 no Brasil e a mobilidade urbana brasileira entre fevereiro e agosto de 2020 a partir de dados do Relatório de Mobilidade da Comunidade da Google e do Situation Report for COVID-19: Brasil do Imperial College London, demonstrando uma queda inicial da média de mobilidade urbana brasileira de 50-60% em relação aos valores anteriores à pandemia, acompanhado também por uma queda do Re. Formulamos, então, hipóteses que poderiam explicar a relativa estabilidade do Re observada ao longo dos meses em um contexto de aumento progressivo da circulação em áreas urbanas brasileiras, utilizando o modelo epidemiológico tricompartimental SIR. Sugerimos que a redução da transmissibilidade do vírus, possivelmente em decorrência de estratégias como o uso de máscaras e a higiene respiratória, junto com uma redução da proporção de suscetíveis para a doença, decorrente de uma possível imunidade natural, ainda mal caracterizada e controversa na literatura, são fatores que provavelmente justificam a estabilidade do Re no contexto de relaxamento do distanciamento social no Brasil.