Os casamentos entre pessoas de diferentes países tendem a organizar-se segundo geografias preferenciais e constituem paisagens conjugais distintivas, como a que ganha forma no espaço transatlântico euro-brasileiro de que o presente artigo dá conta. Neste contexto predominam os arranjos matrimoniais com uma determinada estrutura de género-nacionalidade (homens-europeus e mulheres-brasileiras), dos quais emergem configurações de aliança espacial e culturalmente extensivas, assentes numa exogamia que cruza fronteiras políticas, sociais e identitárias. Diversificada e distendida, esta paisagem conjugal articula múltiplos eixos de alteridade: nacionalidade, sexualidade, género, “raça”, etnicidade, classe. Mais do que fatores de clivagem, as demarcações inscritas neste padrão heterogâmico funcionam como indutoras de atração, envolvendo a conjugação de diversos desejos. As diferenças e desigualdades inerentes aos casamentos entre europeus e brasileiras tendem a suscitar a ideia de que as últimas serão as maiores beneficiadas com a constituição de vínculos de aliança transnacionais. Porém, esta hipergamia feminina pode ser obstada, sobretudo quando o matrimónio implica a migração para a Europa.