A alimentação pública é um campo em disputa, em que os atores coletivos, por meio das suas habilidades sociais, reconstroem normas e significados para conduzir à emergência ou à estabilidade da política. O objetivo do estudo é analisar como a aquisição pública de alimentos pode ser um mecanismo de desenvolvimento em zonas de conflito armado na Colômbia, empregando a perspectiva da Teoria dos Campos de Ação Estratégica e a Abordagem Possibilista de Albert Hirschman. Metodologicamente, a pesquisa corresponde a três estudos de caso. Analisam-se como as formas de organização social de atores coletivos disputam concepções de mundos, redefinem regras e normas e empregam múltiplos recursos para formar alianças, desestabilizar o campo, consolidar seus interesses e reproduzirem-se socialmente. Os resultados sugerem que as políticas públicas de alimentação são concebidas sob estruturas homogêneas que ignoram e tornam invisíveis as formas de gestão comunitária e autônoma. A gestão comunitária e autônoma resiste aos modelos homogeneizadores da contratação pública e do abastecimento, e reivindica a necessidade de redefinir as regras e concepções de mundos em relação a qualidade e as relações que transcendem do campo econômico. Essa última expressa-se como forma de organização mais eficiente e eficaz na resposta às demandas prioritárias das populações rurais. Além disso, constrói novos significados em torno da qualidade dos alimentos e da gestão dos programas públicos em alimentação, num processo de disputas pela reprodução dos múltiplos atores dentro do campo.