Educação e Comportamento PolíticoO debate em torno da formação e da transformação dos comportamentos políticos de indivíduos e grupos na última década, no Brasil e no mundo, passa necessariamente pela consideração de dois fenômenos centrais: o aprofundamento das desigualdades sociais e econômicas, que distanciou ainda mais os ricos e os mais pobres e miseráveis; e a ampliação dos ataques aos regimes democráticos, materializados no crescimento de grupos, organizações e partidos ultraconservadores e de extrema direita. Em alguma medida, esses dois fenômenos se relacionam, sobretudo no que diz respeito à capacidade e/ou às limitações de os governos democráticos oferecerem soluções eficientes para diferentes demandas da sociedade, como a criação de emprego e a diminuição da pobreza, a oferta de educação e saúde, o acesso a moradia e qualidade de vida, a proteção do meio ambiente, o combate à violência e ao crime organizado e a garantia dos direitos das minorias e da liberdade religiosa. No entanto, é importante destacar que, embora a avaliação dos cidadãos sobre a qualidade do funcionamento das instituições democráticas tenha grande relevância, não é possível explicar a adesão ou a rejeição aos valores e ritos democráticos somente por essa dimensão, visto que variáveis como escolaridade, posição social, renda, sexo, categoria profissional, assim como acontecimentos políticos e econômicos nacionais ou locais também constituem dimensões imprescindíveis para a compreensão do modo como as pessoas percebem e reagem aos acontecimentos políticos.Nesse sentido, em primeiro lugar, vale a pena destacar as diferentes dimensões desse fenômeno que, de acordo com Bréchon (2006), poderiam ser assim divididas: 1) opiniões políticas estão relacionadas às ideias, como afirmações ou comentários sobre um dado assunto ou uma tomada de posição sobre um debate em curso na sociedade; 2) comportamentos políticos, por sua vez, referem-se a atos relacionados à política, como o voto ou a participação em determinados movimentos; e, finalmente, 3) atitudes políticas referem-se a uma disposição mais geral, perene e profunda do que as duas dimensões anteriores, constituindo um conjunto de orientações e disposições interiorizadas pelos indivíduos ao longo de suas trajetórias, que sustentam ou embasam suas opiniões e comportamentos. O desafio para a compreensão dessas distintas dimensões dos modos como as pessoas se relacionam com a política se expressa, sobretudo, pela necessidade de estudos que considerem, de um lado, os processos de formação e as características dos sistemas de crenças interiorizados ao longo das etapas da vida em diferentes instâncias socializadoras; e, de outro, os efeitos produzidos por horizontes de expectativas (mais ou menos alargados ou estreitados) em períodos históricos específicos, em função de uma dada organização econômica, política e social.Contudo, que mecanismos concretos (e passíveis de serem observados e analisados) poderiam, enfim, explicar o complexo processo de formação das opiniões, comportamentos e atitudes p...