RESUMO -No presente artigo pretendemos realizar uma reflexão teórica sobre a mudança na percepção do processo de envelhecimento. Ela parte de uma concepção que vincula velhice a declínio, e a contrapõe a desenvolvimento, prosseguindo para uma posição que trabalha a perspectiva do desenvolvimento possível no envelhecimento. Pretendemos também, assim, localizar o ponto de partida do crescimento das pesquisas sobre o envelhecimento humano. A cultura contemporânea expressa um horror à velhice, na medida em que celebra o corpo jovem. Por outro lado, os preconceitos científicos em relação ao envelhecimento começam a ceder e abrir espaços para o avanço das pesquisas.Palavras-chave: envelhecimento; desenvolvimento; life-span.
Changes in Perception of the Aging Process: Preliminary ThoughtsABSTRACT -In this article a theoretical reflection is carried out on changes in perception of the process of human aging. The starting point is a concept which links old age to decline, and opposes it to development. It then proceeds into a position which considers development to be possible in old age. Thus, we also intend to locate the point when such research began to grow. The contemporaneous culture abominates old age, as it celebrates the young body. On the other hand, scientific preconceptions regarding the aging process begin to fade and give way to advances in research.Keywords: aging; development; lifespan. Podemos definir a gerontologia como o estudo do processo de envelhecimento, com base nos conhecimentos oriundos das ciências biológicas, psicológicas e sociais (Neri, 1995;Mascaro, 2004). A primeira menção à necessidade da criação de um campo de estudo para o envelhecimento aparece em 1903, com Metchnikoff (1903, citado por Neri, 1995, mas somente depois de quase 50 anos teremos uma produção mais sistemática sobre o tema do envelhecimento. Podemos pensar que a proposta do Ciclo de Vida, de Erikson (1950, é a primeira grande contribuição do campo da psicologia para a compreensão do envelhecimento. Por que este intervalo de quase cinquenta anos?
O lugar do idoso nas sociedades tradicional e pós-tradicionalA concepção que associa envelhecimento à ideia de declínio contribuiu, segundo acreditamos, para o intervalo de quase cinquenta anos entre os estudos sobre a gerontologia. Sabemos que os preconceitos em relação à velhice podem ser culturais, econômicos e até científicos, e que as sociedades pré-modernas, ou tradicionais (Dumont, 1985;Giddens, 1997), não apresentavam um preconceito cultural em relação ao idoso. Nessas sociedades, o ancião ocupava um lugar de destaque e respeito social, já que era o guardião da sabedoria e o responsável por transmiti-la aos mais jovens (Mascaro, 2004). Podemos pensar em tradição, que é a "cola" que une as ordens sociais pré-modernas, que mantém a ordem social. Uma conexão necessária, que garante a coesão social. A tradição é um meio organizador da memória coletiva, e revela a verdade histórica de um povo. Os guardiões dessa memória, dessa tradição têm muita importância para a sociedade, porqu...