O trabalho original, publicado neste fascículo com o título "Impacto da inserção da temática saúde sexual e reprodutiva na graduação de Medicina" 1 , avaliou o impacto da inserção da temática saúde sexual e reprodutiva na graduação em uma Universidade pública brasileira, para alunos do 5 o ao 8 o períodos do curso de Medicina. Este trabalho apresenta metodologia adequada e mostra a significativa diferença de habilidade entre os alunos que tiveram acesso a estes conhecimentos, quanto à capacidade de identificar características assinaladas como indicadores de saúde sexual e reprodutiva. Paralelamente, os autores discutem os danos ao cuidado com a saúde geral da mulher quando aspectos da saúde reprodutiva são negligenciados durante a formação médica. Constitui, portanto, um estudo de grande relevância, fornecendo evidências sobre os aspectos favoráveis do ensino desse conteúdo, para capacitar profissionais da saúde a proporcionarem assistência integral à saúde da mulher, o que é uma prerrogativa das políticas públicas no Brasil e no mundo.Embora os resultados do estudo sejam nítidos, o dimensionamento do problema (na Introdução) ficou aquém da realidade, uma vez que a revisão bibliográfica apresentada negligenciou alguns aspectos centrais que permitiriam ao leitor reconhecer a relevância do estudo e a aplicabilidade dos resultados. Ademais, não fica clara a interface entre saúde sexual e saúde reprodutiva, dado que a Organização Mundial de Saúde (OMS) as apresenta como conceitos isolados. No entanto, do ponto de vista prático, são áreas interdependentes que permitem ancorar o entendimento do estudo e a análise de seus resultados.O conceito de saúde reprodutiva surgiu em 1994, em decorrência da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (CIPD) realizada no Cairo, como "um estado de completo bem-estar físico, mental e social em todas as questões relacionadas com o sistema reprodutivo", e não apenas a ausência de doença ou enfermidade. A saúde reprodutiva implica, assim, que as pessoas sejam capazes de ter uma vida sexual segura e satisfatória e que possuam a capacidade de se reproduzir e a liberdade para decidir se, quando e com que frequência devem fazê-lo 2 . Isso implica no fato de que a promoção da saúde sexual depende de uma complexidade de serviços, técnicas e métodos especializados, sendo fundamentais a promoção do conhecimento e os recursos financeiros passíveis de viabilizar os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM), que preveem a igualdade de gênero e a autonomia das mulheres, a promoção da informação em saúde e em direitos sexuais, entre outros.