Background: O lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) é o maior canídeo da América do Sul e único representante do seu gênero. Atualmente, já existem estudos referentes ao manejo e anestesia da espécie, mas tratando-se de procedimentos de emergência, a literatura é escassa e, até o presente momento, não existem relatos de anestesia para procedimentos de emergência em lobo-guará neonato. Dessa forma, o objetivo do trabalho foi . Case: , com histórico de acidente com máquina agrícola, foi encaminhado ao Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná, setor Palotina (HVP - UFPR) com fratura exposta grau III de rádio e ulna em membro torácico esquerdo. Na avaliação física observou-se presença estertor bolhoso em lobo caudal direito na ausculta pulmonar, hipoglicemia e grave desidratação, sendo a última determinada pela ocorrência de enoftalmia, No hemograma, identificou-se anemia macrocítica hipocrômica regenerativa, trombocitopenia e leucopenia, e na radiografia torácica observou-se opacificação de padrão alveolar, associado à presença de broncogramas aéreos em lobos caudais, mais evidentes do lado direito, sugestivo de contusão pulmonar. Considerando as alterações laboratoriais e a necessidade de amputação do membro torácico, optou-se pela xenotransfusão antes do procedimento anestésico. O animal foi pré-medicado com metadona 0,2 mg/kg e a indução anestésica foi realizada com propofol dose-efeito, sendo necessários 10 mg/kg. Seguiu-se intubação endotraqueal e manutenção anestésica utilizando a técnica parcial intravenosa com infusão de 5 µg/kg/h de remifentanil. O isoflurano foi vaporizado através de um sistema sem reinalação de gases em oxigênio a 0,6. Durante o procedimento foram avaliados frequência cardíaca e traçado de eletrocardiograma, frequência respiratória, saturação de oxihemoglobina, pressão parcial de dióxido de carbono ao final da expiração, pressão arterial sistêmica pelo método oscilométrico e temperatura corporal esofágica. A transfusão interespecífica terminou duas horas após o término da anestesia, sem a ocorrência de reações transfusionais imediatas. Embora os exames de sangue posteriores à transfusão evidenciaram aumento do hematócrito, notou-se também alterações sugestivas de reação hemolítica em decorrência da transfusão. Discussion: A estabilização pré-anestésica é fundamental, uma vez que a anestesia de pacientes instáveis pode resultar em maior risco de complicações anestésicas. Pacientes críticos podem apresentar desequilíbrio sistêmico que podem desencadear alterações farmacocinética e farmacodinâmica dos anestésicos e analgésicos. Neonatos apresentam diversas diferenças fisiológicas marcantes, visto que alguns órgãos ainda são imaturos, contam com um elevado volume corporal de água, uma quantidade de gordura total e concentrações de proteínas circulantes reduzidas, tornando necessário o ajuste de protocolos e doses utilizadas para esses pacientes. A transfusão de sangue entre a mesma espécie é sempre a melhor opção, no entanto, a xenotransfusão se torna uma opção quando não existe um doador homólogo disponível. Contudo, pode apresentar um grande risco à vida, pois faltam estudos referentes a tipagem sanguínea da espécie e testes de compatibilidade sanguínea. Concluiu-se que houve um aumento do hematócrito após 24 horas da xenotransfusão e mesmo com sinais de reação hemolítica tardia observadas no exame de sangue, o paciente não apresentou sinais clínicos específicos de reação transfusional. O filhote foi sensível a metadona, mas necessitou de alta dose de propofol para indução anestésica. A utilização de metadona como agente pré-anestésico e a infusão de remifentanil promoveram analgesia adequada baseado nos parâmetros avaliados.
Keywords: xenotransfusion, stabilization, anesthesia, neonatal.
Palavras-chave: xenotransfusão, estabilização, anestesia, neonato.