IntroduçãoAtualmente, o psiquiatra da infância é colocado frente a inúmeros novos agentes farmacológicos com o perfil de maior tolerabilidade e de, potencialmente, causarem menos prejuízos. Isso os torna de grande interesse para a utilização em crianças. Entretanto, os dados em relação a eficácia e segurança destes agentes, e mesmo dos mais antigos, provêm de estudos realizados, em sua grande maioria em adultos.Ao psiquiatra da infância e adolescência cabe a difícil decisão de usar ou não drogas cuja eficácia e segurança não foram adequadamente confirmadas, justamente no segmento etário mais vulnerável do ponto de vista biológico aos efeitos indesejáveis ou nocivos desses agentes.No presente artigo serão apresentados os principais grupos farmacológicos e suas indicações na área de psiquiatria da infância e adolescência.
Principais grupos farmacológicos e indicações
AntidepressivosTradicionalmente, os antidepressivos são subdivididos tanto pelos grupos químicos a que pertencem quanto pela sua ação farmacológica: antidepressivos heterocíclicos (tricíclicos e tetracíclicos), inibidores da monoaminoxidase e, mais recentemente, inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS). Em função do maior conhecimento de suas propriedades, ultimamente eles têm sido classificados segundo suas ações farmacológicas. 1 Os antidepressivos mais comumente usados em crianças e adolescentes se restringem aos antidepressivos tricíclicos (ADTs), os ISRS e, mais recentemente, a bupropiona.
ADTsDados de pesquisa em animais de laboratório indicam que os sistemas noradrenérgico e dopaminérgico da criança só estão inteiramente desenvolvidos no final da adolescência, início da idade adulta, enquanto o sistema serotonérgico amadurece mais cedo. 2 Esses dados sugerem que crianças e adolescentes possam ser mais responsivos aos ISRS do que aos ADTs em determinadas indicações.Os ADTs são os antidepressivos mais usados em crianças. 3-5 No entanto, esse predomínio parece ser só uma questão de tempo. Devido ao perfil de menor risco e aos efeitos colaterais, os ISRS estão substituindo rapidamente os ADTs nas suas indicações e pesquisas.O efeito terapêutico dos ADTs está associado à sua capacidade de diminuir a recaptação da noradrenalina e da serotoni-na, potencializando as ações desses neurotransmissores. Seus efeitos colaterais resultam do bloqueio dos receptores muscarínicos, histamínicos e alfa-adrenérgicos.As crianças são metabolizadores mais rápidos em relação ao organismo adulto. 4 Nelas, os ADTs atingem rapidamente picos sangüíneos, favorecendo o aparecimento de efeitos colaterais e toxicidade. Conforme a dose diária, crianças abaixo de 12 anos devem recebê-la fracionada em até três vezes e os adolescentes em duas vezes ou em tomada única. 2,3 Por outro lado, a existência de "metabolizadores lentos" em até 10% da população, também sugere precaução nas dosagens para evitar efeitos de intoxicação por acumulação da droga. Em crianças, o adágio "start low and go slow" vale para qualquer tipo de antidepressivo.Os efeitos colaterais mais comuns...