A lagarta da mariposa Premolis semirufa, comumente chamada de pararama, é encontrada na região amazônica brasileira. O contato acidental com as cerdas da lagarta causa uma sensação de coceira intensa, seguida de sintomas de inflamação aguda. Após múltiplos contatos, estabelece-se uma reação inflamatória crônica (pararamose) semelhante à osteoartrite. Esta é caracterizada pelo espessamento sinovial articular, por deformidades articulares e perda de movimento. Até o momento, ainda não há tratamento específico para a pararamose e o nosso grupo tem estudado a ação deste veneno, com o objetivo de identificar possíveis alvos para o tratamento dessa doença. Neste estudo demonstramos que o veneno da pararama ativa (i) o sistema complemento, com geração de anafilatoxinas e do sTCC; (ii) os leucócitos, com expressão aumentada de C11b, TLR2 e TLR4 em monócitos e C11b, CD14, TLR2 e C5aR em granulócitos, e (iii) induz a secreção de IL-17, TNF-α, CXCL8, CCL5, CXCL9, CCL2 e CXCL10 em sangue humano. Também usamos inibidores específicos do complemento para pontos-chave da cascata para determinar mecanisticamente os condutores do processo inflamatório neste modelo. Com a inibição do complemento, no nível de C3, com a compstatina, ou do eixo C5a-C5aR1, com o PMX205, houve uma modulação da ativação dos leucócitos e da secreção de citocinas e quimiocinas. Para avaliar melhor o papel do complemento na inflamação induzida pelo veneno do pararama, células endoteliais foram expostas ao plasma coletado de amostras de sangue tratadas com veneno e como resultado observamos a produção de CXCL8 e CCL2, que foi consideravelmente reduzida pelo uso de inibidores do complemento. Além disso, neutrófilos humanos quando expostos ao plasma coletado de amostras de sangue tratadas com veneno, produziram TNF-α, IL-6, CXCL8, mieloperoxidase e Elastase, sendo que a inibição do complemento, com compstatina e PMX205, resultou em uma redução da geração de todos esses mediadores. Assim, esses resultados mostram a contribuição do sistema complemento para o processo inflamatório induzido pelo veneno da pararama no modelo de sangue total humano e destacam a importância de C3 e do eixo C5a-C5aR1 na inflamação causada por esse veneno e seu possível papel na progressão da pararamose. Sugerem também que a modulação da atividade do sistema complemento, pelo uso de inibidores específicos, possa ser uma potencial terapia complementar para os indivíduos acidentados com a lagarta da Premolis semirufa.