Este trabalho volta o olhar sobre as colônias sul-americanas da Monarquia hispânica e busca aproximar-se etnograficamente de alguns dos modos em que as sociedades locais concebiam, experimentavam e representavam o tempo. Para isto, baseia-se no estudo do caso resultante do juicio de residencia dirigido a um governador da província de Tucumán em meados do século XVIII. Executado por ordem e em nome do Rei, este processo definiu o espaço ritual em que relatos orais, testemunhos escritos e ações rituais terminaram por converter-se em um documento de 7 mil páginas que interroga o passado, isto é, o trabalho dos funcionários locais. Contudo, sendo um documento que transcende o momento de sua produção, ele comporta também uma perspectiva do futuro.A partir deste campo etnográfico, a construção social do tempo e as relações entre oralidade e escrita delineiam as problemáticas que interessa explorar.Como mostraram Émile Durkheim e Marcel Mauss, resulta impossível avançar em uma exploração do tempo sem levar em conta os condicionamentos sociais em que certas representações se constroem (Durkheim, 2007(Durkheim, [1912; Durkheim & Mauss, 1971[1903). A antropologia, como a história, registraram a existência de outras formas de organização social e econômica que remetem a maneiras diferentes de contar o tempo, contribuindo, neste trajeto, para relativizar e historicizar nossas próprias noções (Leach, 1971(Leach, [1961