Resumo: Dos principais trabalhos em antropologia, poucos se ocupam especificamente das crianças, o que é uma situação curiosa, uma vez que quase toda a antropologia contemporânea se baseia na premissa de que a cultura é aprendida, não herdada. Embora as crianças tenham uma capacidade notável e indiscutível para o aprendizado em geral, e o da cultura em particular, fato é que a antropologia tem demonstrado pouco interesse nelas e em suas vidas. Este artigo examina os motivos para essa lacuna lamentável e apresenta razões teóricas e empíricas para repudiá-la. Entendemos que a resistência aos estudos da infância é um subproduto de (1) uma visão empobrecida da aprendizagem cultural, que superestima o papel desempenhado pelos adultos e subestima a contribuição das crianças na reprodução cultural e, (2) uma falta de apreciação do alcance e da força da cultura infantil, particularmente na formação da cultura adulta. A proposta deste trabalho é mostrar que a marginalização das crianças e da infância obscureceu nossa compreensão de como as formas culturais surgem e do porque elas são mantidas. Dois estudos de caso, explorando a crença de crianças norte-americanas sobre a contaminação social, ilustram esses