RESUMO OBJETIVO.A crescente utilização de opióides em doentes com dor crônica de etiologias variadas e os possíveis efeitos desses fármacos em atividades diárias suscitam a importância de se avaliar tais efeitos. Com essa finalidade, desenvolveu-se este estudo de revisão sistemática que avaliou a influência de opióides nas funções cognitivas de doentes com dor crônica. MÉTODOS. Onze bases de dados foram analisadas utilizando-se os descritores opioids, opiates, narcotics, cognitive impairment, cognitive dysfunction, cognitive disorders e pain. Os critérios de inclusão foram: ensaios clínicos ou relatos de caso de dor crônica em tratamento com opióides, testes específicos para avaliação cognitiva e publicação em inglês, espanhol ou português.
RESULTADOS.
INTRODUÇÃOOs opióides são tradicionalmente recomendados para o controle da dor aguda e dor crônica oncológica, de moderada à intensa. Mais recentemente, em algumas situações, observa-se maior indicação para o controle da dor crônica não-oncológica.O termo opióide é utilizado para denominar um grupo de drogas com propriedades semelhantes ao ópio. Denomina-se opiáceo os derivados naturais e alguns congêneres semi-sintéticos; e os sintéticos, de opióides. No entanto, há a tendência de se generalizar o termo opióide para todas as substâncias que atuam por meio da interação com receptores opióides. A denominação narcóticos deve ser preterida para dissociar-se da idéia de sono e torpor, pois a principal ação dos opióides é a analgesia 1 . A ação analgésica dá-se em sítios espinhais e supra-espinhais. Os opióides inibem a transmissão ascendente dos estímulos nociceptivos, provenientes do corno dorsal da medula espinhal, e ativam as vias de modulação da dor, que descendem do mesencéfalo pelo bulbo ventromedial rostral e chegam ao corno dorsal da medula espinhal 1 . Os efeitos dos opióides no Sistema Nervoso Central são diversos e não completamente conhecidos. Acredita-se que possam interferir na aquisição, processamento, armazenamento e recuperação da informação 2 e acarretar alterações psicomotoras, do humor (euforia e disforia), da concentração, da memória e do tempo de reação 3,4 . Alterações cognitivas podem comprometer o funcionamento dos doentes em suas atividades físicas, laborativas, sociais e de lazer. Estudos com voluntários sadios com pouca ou nenhuma exposição a drogas psicoativas, demonstraram grande tendência à disfunção cognitiva após a administração pontual de opióides 5 . O consumo de opióides cresceu entre 26% e 1423% em países como a Dinamarca, Suíça, Austrália, Estados Unidos, Holanda, Reino Unido, Suécia, Nova Zelândia, Canadá e Israel. Uma análise de 1.854 prescrições dinamarquesas feitas por clínicos gerais revelou que menos de 10% foram aviadas para o controle da dor oncológica 6 . A prescrição de opióides para doentes com história de câncer avançado é unânime na área médica e seus possíveis efeitos deleté-rios sobre a função cognitiva parecem não representar preocupação relevante. A utilização de opióides em doentes com doença oncológica não avan...