Se mudo o mundo muda: ensino de línguas sob a perspectiva do emergentismoIf I change the world changes: Language teaching from an emergentistic perspective RESUMO -O objetivo do texto é mostrar que a percepção do ensino de línguas como um sistema complexo pode facilitar o trabalho do professor na sala de aula. Na medida em que os sistemas complexos, entre outros aspectos, caracterizam-se por serem abertos, auto-reguláveis e sensíveis às condições iniciais, o professor pode usar essas características para fazer o sistema eclodir, despendendo menos esforço e produzindo mais resultado. Para isso, procura-se dar uma ideia clara do que é um sistema complexo, de como ele emerge e de como é possível corrigir seu rumo. Mostram-se as relações entre os diferentes elementos de um mesmo sistema e entre um sistema e outro, com vários exemplos do quotidiano e da sala de aula. Conclui-se que as abordagens tradicionais, por serem reducionistas, são incapazes de explicar o desenvolvimento da língua. Na medida em que ignoram a interação entre os diferentes elementos do sistema, acabam apenas sobrecarregando o professor com tarefas improdutivas.Palavras-chave: emergentismo, complexidade, teoria do caos, pensamento complexo, ensino de línguas.
IntroduçãoA ideia dos sistemas emergentes, e do que tem sido defi nido como emergentismo, tem despertado muito interesse na área da aquisição da língua estrangeira (Larsen-Freeman, 1997;2000;; Ellis e LarsenFreeman, 2006;Meara, 2006;Mellow, 2006; Cameron e Deignan, 2006;MacWhinney, 2005;Ellis, 2007;Bot et al., 2007;Ionin, 2007). A maior parte desses estudos tem privilegiado a perspectiva da Psicolinguística. Este artigo parte de uma perspectiva mais ampla, além da Psicolinguística e da aquisição, para refl etir sobre o trabalho do professor na sala de aula, tanto de língua como de literatura. Veem-se os sistemas emergentes e as teorias da complexidade que os embasam como algo maior, que vai desde os fenômenos da natureza como o clima, os formigueiros e as colmeias, até as organizações sociais, como as comunidades de aprendizagem que formam a sala de aula com suas normas e divisão de trabalho (Bertanlanffy, 1973;Gleick, 1990;Johnson, 2003;Lewin, 1994;Morin, 1995;Paiva, 2005;Parreiras, 2005;Vetromille-Castro, 2007). São todos vistos como sistemas complexos em que as partes não se somam umas às outras, mas interagem, produzindo novos elementos, muitas vezes em cascata, que vão muito além da soma das partes.Considerando que, para entender os sistemas emergentes, é antes necessário entender os sistemas complexos, introduz-se num primeiro momento o que se entende por sistema complexo. Enfatiza-se aí não apenas a ideia de interação dos elementos que o compõem, mas também a ideia de que os sistemas complexos emergem em algum momento, evoluem no tempo e se extinguem quando o motivo que lhes deu origem deixar de existir. Caracterizam-se basicamente por serem sistemas abertos, tanto às condições externas que acompanham durante sua evolução quanto às condições iniciais que o fi zeram emergir.No segund...