A partir da análise dos dados normativos de uma amostra de 60 crianças portuguesas, 30 de cada sexo, de 10 anos de idade, vivendo na cidade de Lisboa, os autores procedem ao exame de um certo número de variáveis cujos valores médios ou frequência de ocorrência se afastam, de modo acentuado, de idênticos dados obtidos por Exner e Weiner , nos EUA. O objectivo não consiste tão só em salientar a ocorrência de diferenças, mas sobretudo em assinalar o que porventura pode constituir um conjunto de indicadores da dimensão cultural portuguesa, responsável por tais diferenças. Após uma breve caracterização da amostra, apresentam-se os resultados de uma busca de diferenças entre sexos, as quais se limitam a 5 variáveis: soma das respostas de sombreado, combinação cor-sombredo, conteúdo humano irreal, total de respostas de conteúdo humano e conteúdo Arte. Estas diferenças são todas favoráveis ao sexo feminino. Apresenta-se, depois, uma tabela com os dados normativos portugueses e norte-americanos de 47 variáveis do Rorschach, em termos de média e desvio-padrão. O seu exame começa por destacar dois aspectos principais. Em primeiro lugar, regista-se o facto de, quase sistematicamente, os valores dos desvios-padrão serem mais elevados na amostra portuguesa do que na americana, indicando uma maior dispersão ou variabilidade de respostas na primeira do que na segunda. A que se deve esta característica? A uma população mais heterogénea? A um modo ou atitude mais personalizada ou individualizada de resposta? É uma questão que se levanta e cuja resposta pode ser reveladora. Em segundo lugar, chama-se a atenção para o valor elevado de Lambda, mostrando designadamente que o valor máximo desta variável, nos dados normativos americanos, 1.11, fica bastante aquém do valor mediano dos dados da amostra portuguesa, 1.67. Como a variável Lambda constitui, neste caso, um importante condicionador da ocorrência de outros determinantes, ela torna-se a característica principal, responsável pelas acentuadas diferenças que se verificam na maioria das variáveis constantes da tabela. O exame e discussão dessas diferenças resultam, pois, injustificados e inadequados. Isto equivale a postular a ideia de que a comparação entre os totais das duas amostras, com base na multiplicidade de variáveis do Rorschach, é, em grande medida, inviável, ou, dito de outro modo, que as duas amostras são realmente distintas e independentes num importante número de aspectos.