ResumoO presente estudo testou a eficácia de dois programas de escrita inventada com crianças do pré-escolar. Partiu-se da hipótese de que ambos seriam eficazes no desenvolvimento da escrita das crianças dos grupos experimentais face ao grupo de controlo. Entre os dois programas a sequência de apresentação das palavras foi variável, mas todas surgiam de materiais usados em jardim-de-infância. Participaram 61 crianças com idades de 5 e 6 anos. Os resultados indicaram diferenças significativas no número global de letras corretamente escritas, na comparação dos dois grupos experimentais com o de controlo, não se tendo encontrado diferenças entre os dois grupos experimentais. Palavras-Chave: escrita inventada; programas de intervenção; pré-escolar
IntroduçãoAs crianças, antes do ensino formal da leitura e escrita, vão desenvolvendo os primeiros passos para se tornarem leitores-escritores e, nas suas tentativas de descoberta da escrita convencional, vão produzindo as suas escritas.Alguns autores referem-se a estas escritas como escritas inventadas (Chomsky, 1970;Read, 1971) ou concetualizações infantis sobre a linguagem escrita (Ferreiro & Teberosky, 1999) Silva, 2006Silva, , 2009Ouellette & Sénéchal, 2008;Ouellette, Sénéchal & Haley, 2013). De facto, os programas de escritas inventadas levam a que as crianças reflitam sobre as produções escritas, sobre a relação entre o oral e o escrito e que vão mobilizando o conhecimento de sons e letras e, assim, possibilitam experiências adequadas de exploração e aprendizagem de competências que facilitam a aquisição da escrita e da leitura (Adams, 1998;Alves Martins & Silva, 2009;Ouellette & Sénéchal, 2008;Treiman, 1998).Nestes estudos são constituídos grupos equivalentes em relação à idade, nível de desenvolvimento cognitivo, consciência fonológica e número de letras conhecidas, dado estas serem variáveis que estão relacionadas com a aprendizagem da leitura e da escrita. Uns grupos são sujeitos a programas de intervenção de escritas inventadas e outros funcionam como grupo de controlo, em que a sua intervenção não tem relação com a linguagem (Alves Martins, Mata & Silva, 2014).Os programas de intervenção de escritas inventadas que têm vindo a ser traçados em Portugal seguem determinados pressupostos, sendo que nas sessões se procura criar situações em que se confrontam as crianças com uma escrita alfabética de uma hipotética criança da mesma idade, no sentido de promover e gerar conflito cognitivo e levar à reflexão sobre a escrita. Desenvolvidos dentro da Zona de Desenvolvimento Proximal das crianças, os programas de intervenção promovem a evolução do domínio da escrita (Vygotsky, 1978). Procura-se então que as crianças tenham um papel ativo e participativo no seu processo de aprendizagem e construção do conhecimento acerca da leitura e da escrita, sendo que o objetivo é provocar contradições na informação e, deste modo, gerar dúvidas que levam as crianças a rever as suas conceptualizações sobre a linguagem escrita.As primeiras investigações, realizadas com crianças portugues...