Este artigo aborda alguns aspectos relacionados ao conceito de vida como a conhecemos e explora a relação entre a evolução química do Universo e a produção dos elementos básicos da química prebiótica. Baseando-se no Modelo Cosmológico Padrão, são descritas as condições cosmológicas que levaram ao surgimento desses elementos e são mostradas evidências de que o Universo, em seus estágios primordiais, dispunha de elementos capazes de produzir substâncias orgânicas. É feita uma breve abordagem de como a química em ambientes astrofísicos leva à formação de compostos que fazem parte da cadeia de reações que conduz à formação dos "tijolos da vida". Finalmente, levantamos a hipótese que o universo poderia ter zonas habitáveis a partir dos primeiros 30 milhões da anos e que a condição de habitabilidade tem estreita relação com a sua evolução química, mesmo quando se leva em consideração a hipótese de diferentes universos. Palavras-chave: Habitabilidade Cósmica, Astrobiologia, Astroquímica.This article discusses some aspects related to the concept of life as we know it and explores the relationship between the chemical evolution of the Universe and the production of the basic elements of prebiotic chemistry. Based on the Standard Cosmological Model, the cosmological conditions that led to the appearance of these elements are described and evidences are shown that the Universe, in its primordial stages, had elements capable of producing organic substances. Next section gives a short overview on how chemistry in astrophysical environments leads to the formation of compounds that are part of the chain of reactions that leads to the formation of the "bricks of life." Finally, we mention that the universe could have habitable zones from the first 30 million years and that the habitability condition has a close relation with its chemical evolution, even when one takes into account the hypothesis of different universes. Keywords: Cosmic Habitability, Astrobiology, Astrochemistry.
IntroduçãoA existência de vida no Universo tem permeado o pensamento humano desde os primórdios da civilização. Os avanços científicos do século XX, particularmente a partir da década de 1950, com a exploração do espaço exterior, permitiram um estudo mais aprofundado sobre uma série de fenômenos astronômicos que ampliaram, em muito, a compreensão do Universo. O cenário construído a partir dessas observações, em paralelo com avanços teóricos e modelos computacionais, indica que vivemos num Universo com cerca de 14 bilhões de anos, cuja composição inclui ∼ 96% de matéria e energia escuras, de origem ainda desconhecida, e ∼ 4% de matéria ordinária (basicamente constituída de prótons, nêutrons e elétrons) que deu origem às estrelas e galáxias, observadas principalmente através da emissão de radiação eletromagnética. Uma cronologia da evolução do modelo padrão, bem * Endereço para correspondência: fredsvieira@gmail.com como uma descrição atualizada e didática do "status"da cosmologia atual pode ser encontrada em [1][2][3][4][5][6][7].Esse cenário descreve o ...