Vitrectomia farmacológica e descolamento do vítreo posteriorO vítreo exerce papel crucial na patogênese de vários distúrbios vitreoretinianos. As alterações moleculares e estruturais fisiológicas do gel vítreo evoluem para a liquefação e culminam com o descolamento do córtex vítreo posterior (DVP). A ocorrência do descolamento do vítreo posterior influencia positivamente o prognóstico de pacientes diabéticos, com maculopatias e vasculopatias. Abordaremos o conceito da vitrectomia farmacológica que se refere ao uso de agentes que alteram a organização molecular do vítreo, num esforço de reduzir ou eliminar seu papel na gênese de doenças vítreo-retinianas, sendo o seu objetivo final, o descolamento total do vítreo posterior. Vários agentes têm sido estudados durante a última década, porém, existem várias limitações na aplicabilidade clínica destes compostos. Nesse artigo de revisão, iremos abordar os diferentes agentes e os seus mecanismos de ação sobre a matriz extracelular e a interface vítreo-retiniana.
INTRODUÇÃODescolamento do vítreo posterior (DVP) pode ser definido como a separação da região cortical do vítreo posterior da membrana limitante interna da retina (MLI). Pesquisas realizadas a partir de necrópsias relatam a incidência de DVP em 63% dos olhos estudados na oitava década de vida (1) . O DVP é mais comum em mulheres e em míopes, ocorrendo dez anos mais cedo nestes casos do que em emétropes e hipermétropes. A cirurgia de catarata também pode abreviar o aparecimento de DVP, principalmente em pacientes míopes (2) .O DVP resulta do enfraquecimento da adesão do córtex vítreo com a MLI, em conjunto com a liquefação vítrea que ocorre com o avanço da idade. Ao processo de liquefação vítrea denominamos sínquise. Postula-se que o vítreo liquefeito atinja o espaço posterior ao córtex vítreo através de uma abertura deste, localizada na região imediatamente anterior ao disco óptico (área de Martegiani) (3) . Com o movimento do corpo e conseqüente-mente da cabeça e dos olhos, o vítreo liquefeito vagarosamente disseca o espaço retro-cortical, aumentando a área de descolamento do córtex vítreo da MLI. O DVP acontece, então, quando a adesão vítreo-retiniana é rompida, havendo um colapso do corpo vítreo totalmente separado da retina, em um processo denominado de sinérese (4) .O DVP total caracteriza-se pela completa separação entre o vítreo cortical posterior e a retina (sem áreas residuais de adesão em superfície retiniana). A ocorrência do DVP total em pacientes com vasculopatias da retina ATUALIZAÇÃO CONTINUADA