Este artigo analisa as conexões econômicas e sociais engendradas pelo tráfico de escravos entre Angola e Brasil, assim como o abolicionismo português na primeira metade do século XIX. Neste sentido, o artigo usa como ponto de partida a trajetória pessoal de José Ferreira Gomes, um homem negro, nascido em Benguela, cuja mãe, Florinda José Gaspar, era filha de um chefe africano da Catumbela e cujo pai, Francisco Ferreira Gomes, foi um homem negro nascido no Brasil que tinha sido um dos traficantes de escravos mais ativos em Benguela. Tendo como base a biografia de Gomes Júnior, o artigo discute os laços sociais e culturais que os traficantes de escravos angolanos mantinham com o Brasil e com as populações africanas, a transição do tráfico de escravos para o comércio lícito, e as mudanças na políticas portuguesas em relação ao tráfico de escravos na década de 1840. Para entender o recrudescimento do colonialismo em Angola, o artigo examina acusações de que membros da família Ferreira Gomes teriam participado de sedições raciais e anti-coloniais contra os portugueses.