Este artigo amplia o diagnóstico de Tom Slater sobre as causas da gentrificação da pesquisa recente sobre gentrificação.2 Ele argumenta que o deslocamento de denúncia para celebração da gentrificação, a elisão do deslocamento dos residentes estabelecidos e o foco eufemístico em “mesclagem social” participam de um padrão de invisibilidade da classe operária na esfera pública e na investigação social. Essa obliteração do proletariado na cidade é reforçada pela heteronomia crescente da pesquisa urbana, na medida em que ela se torna mais ligada estreitamente aos interesses dos governantes da cidade. Ambas as tendências revelam e incitam a transformação do papel do Estado, de provedor de assistência social para populações de renda mais baixa para o de fornecedor de serviços e amenidades empresariais para urbanitas de classe média – e alta –, entre os quais a limpeza, no ambiente construído e nas ruas, dos detritos físicos e humanos engendrados pela desregulação econômica e o corte de gastos de previdência social. Para construir melhores modelos do nexo em transformação entre classe e espaço na cidade neoliberal, precisamos ressituar a gentrificação numa perspectiva mais ampla, revisando a análise de classe para capturar a (de)formação do proletariado pós-industrial, resistindo às seduções das problemáticas pré-fabricadas das ações políticas e dando destaque ao Estado como produtor da desigualdade socioespacial. PALAVRAS-CHAVE: gentrificação, espaço urbano, classes, política, sociologia urbana.RELOCATING GENTRICATION: the working class, science and the state in recent urban research Loïc Wacquant This article amplifies Tom Slater’s diagnosis of the causes of the gentrification of recent gentrification research. It argues that the shift from the denunciation to the celebration of gentrification, the elision of the displacement of the established residents, and the euphemistic focus on ‘social mixing’ partake of a broader pattern of invisibility of the working class in the public sphere and social inquiry. This effacing of the proletariat in the city is reinforced by the growing heteronomy of urban research, as the latter becomes more tightly tethered to the concerns of city rulers. Both tendencies, in turn, reveal and abet the shifting role of the state from provider of social support for lower-income populations to supplier of business services and amenities for middle – and upperclass urbanites – among them the cleansing of the built environment and the streets from the physical and human detritus wrought by economic deregulation and welfare retrenchment. To build better models of the changing nexus of class and space in the neoliberal city, we need to relocate gentrification in a broader and sturdier analytic framework by revising class analysis to capture the (de)formation of the postindustrial proletariat, resisting the seductions of the prefabricated problematics of policy, and giving pride of place to the state as producer of sociospatial inequality. KEY WORDS: gentrication, urban space, class, politics, urban sociology.MISE EN SITUATION DE L´ANOBLISSEMENT: la classe ouvrière, la science et l´État dans la recherche urbaine récente Loïc Wacquant Cet article amplifie le diagnostic de Tom Slater sur les causes de la “gentrification” des études récentes sur la “gentrification” urbaine. Le glissement de la dénonciation à l’éloge de la gentrification, l’élision du déplacement forcé des habitants établis et la focalisation euphémistique sur la “mixité sociale” s’inscrivent dans un schéma plus large d’invisibilisation de la classe ouvrière dans la sphère publique et les investigations sociologiques. Cet effacement du prolétariat des métropoles est renforcé par l’hétéronomie croissante de la recherche urbaine, plus étroitement liée que jamais aux préoccupations des dirigeants de la ville. Ces deux tendances révèlent et facilitent la mutation du rôle de l’État, de fournisseur de soutiens sociaux aux populations démunies en agence de services et d’équipements marchands pour citadins des classes moyennes et supérieures–au premier rang desquels figure le nettoyage de l’environnement bâti et des rues des détritus humains et matériels engendrés par la dérégulation de l’économie et le recul de la protection sociale. Pour construire de meilleurs modèles des rapports changeants entre classe et espace dans la ville néolibérale, il faut replacer la gentrification des quartiers populaires dans un cadre analytique élargi et renforcé en réélaborant l’analyse de classe pour saisir la (dé)formation du prolétariat post-industriel, en résistant aux séductions des problématiques préfabriquées de politique publique, et en accordant une place centrale à l’État en tant que producteur d’inégalités sociospatiales. MOTS-CLÉS: anoblissement, espace urbain, classes, politique, sociologie urbaine. Publicação Online do Caderno CRH: http://www.cadernocrh.ufba.br