A primeira descrição clínica da síndrome da hiperémese dos canabinoides advém de um artigo de Allen et al publicado em 2004. Desde então, várias publicações têm-se focado na sua conceptualização e abordagem clínica, embora se mantenha pouco conhecida na comunidade médica. Esta síndrome é caracterizada pela tríade de consumo crónico de canabinoides, hiperémese cíclica, e banhos ou duches quentes compulsivos como forma de alívio sintomatológico. Podem ainda ocorrer dor abdominal e outros sintomas. A sua verdadeira prevalência é desconhecida, embora se acumule evidência de que é mais frequente do que outrora julgado. Foram aventadas várias hipóteses para a sua patogénese, nomeadamente relacionadas com recetores canabinoides e vaniloides, o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e o sistema nervoso simpático. Em termos terapêuticos, justificam-se medidas de suporte (p.e. hidratação) na fase aguda, existindo evidência para a utilização de benzodiazepinas (nomeadamente lorazepam), haloperidol ou capsaicina tópica para alívio sintomático. A única intervenção que interrompe o quadro é a abstinência dos consumos, devendo ser feita psicoeducação e orientação adequadas do doente. O conhecimento relativo a esta patologia encontra-se em crescimento. A falta de sensibilização para a doença pode conduzir a testes de diagnóstico invasivos e dispendiosos, inúmeras idas ao serviço de urgência e manutenção do quadro clínico sem resolução sintomatológica. O presente artigo visa sistematizar as linhas de intervenção clínica e fomentar uma maior consciencialização dos profissionais de saúde sobre esta entidade, permitindo uma melhor identificação e abordagem terapêutica deste quadro.