Este artigo tem como objetivo apresentar e debater construtos teórico-metodológicos a partir da disciplina de Terapia Ocupacional que podem servir enquanto categorias conceituais e práticas para operar e responder às questões da cidade. Para tanto, ancora-se em três conceitos: analfabetismo urbanístico, interdisciplinaridade e envolvimento ocupacional. Os dois primeiros são discutidos à luz dos ensinamentos da arquiteta e urbanista Ermínia Maricato, na qual discute o modo de produção e difusão de conhecimentos sobre a cidade, propondo-a como um campo educativo e de múltiplas perspectivas teóricas e políticas, que disputam narrativas e tecnologias entre si. Já o terceiro, envolvimento ocupacional, se dá a partir dos Estudos da Ocupação Humana (EOH) enquanto um campo epistêmico que se debruça sobre o objeto ‘ocupação humana’ para fundamentar a disciplina de Terapia Ocupacional, e áreas afins. Destaca-se que o envolvimento ocupacional é uma experiência, individual e coletiva, sobre os modos de realizar a vida e participar dela socialmente. Deste modo, a cidade é, para a Terapia Ocupacional, o espaço social privilegiado para o envolvimento ocupacional no autocuidado, no lazer, no trabalho, nos estudos, na política, na vida comunitária, entre outras ocupações coletivas, que cumprem funções e significados diversos para garantir tanto o direito à cidade como produzir as desigualdades socioterritoriais. Por tanto, propõe-se que a Terapia Ocupacional enquanto uma área que se dedica, teórica e metodologicamente, ao envolvimento ocupacional de pessoas, grupos e populações, possui significativas contribuições à produção de conhecimentos e tecnologias interdisciplinares sobre a cidade, colaborando ética e tecnicamente para a responsividade social de equalizar o analfabetismo urbanístico e as assimetrias no cotidiano das cidades.