As comensalidades digitais, entendidas enquanto práticas de compartilhamento deexperiências sociais ao redor da comida e da alimentação mediadas pelo uso de tecnologiasdigitais, têm se tornado cada vez mais populares em todo o mundo, chamando a atenção dadiscussão pública, do mercado e da comunidade acadêmica. Posicionadas como novos objetosde interesse da ciência, elas têm sido investigadas a partir de suas peculiaridades quanto àlinguagem, forma, dinâmica e conteúdo, e, coexistindo com as formas tradicionais decomensalidade, inauguram um novo momento da história do ato de comer junto, próprio dasconjunturas societárias construídas ao longo das últimas décadas, com destaque para oprocesso de individualização dos lares, intensificação das rotinas de trabalho tipicamenteurbanas e da digitalização dos meios de comunicação, e, mais recentemente, com o avanço dapandemia de COVID-19. No rol das comensalidades digitais, a comensalidade remota, definidaa partir da realização de refeições entre comensais geograficamente distantes e conectados porferramentas de videoconferência surge como uma alternativa para sustentar relações,celebrações e outros rituais de comida entre comensais impedidos de se reunirpresencialmente, suscitando a hipótese de que, tal qual a comensalidade tradicional, a práticaremota pode culminar em ganhos de saúde para seus participantes. Diante de tais processos eindagações, e observada a lacuna existente de estudos que considerem o potencial das novasformas de comensalidade enquanto estratégias de saúde coletiva, este trabalho teve comoobjetivo avaliar qualitativamente se a prática da comensalidade remota é capaz de promoversaúde entre adultos brasileiros que moram sozinhos. Para tanto, ele foi dividido em três etapas:realização de um grupo focal e de um almoço remoto entre 4 adultos brasileiros que moravamsozinhos e pesquisadores, além da aplicação de questionário com os voluntários, desenhadosa partir do método da pesquisa-ação. Os dados coletados durante as etapas foramcategorizados e analisados quantitativamente. Como resultado, foi possível apontar que aparticipação no almoço remoto foi associada a menor stress, qualidade de sono, melhorias nocuidado com a comida, no que diz respeito ao planejamento, prazer em comer, e na qualidadedas interações cultural e social de suas vidas. Ainda, foi possível posicionar a comensalidaderemota enquanto ferramenta de avaliação, intervenção e monitoramento de questõesassociadas à alimentação dos comensais, de modo que, combinada a outras ferramentas,poderia ser veículo de ação direta por parte de agentes promotores de saúde, suscitandopráticas saudáveis e emancipadoras dos participantes em relação a seus hábitos alimentares ede vida. Dessa forma, foi possível concluir que a comensalidade remota é prática válida, legítimae pertinente para a formulação de estratégias de promoção de saúde, servindo tanto àcoletividade quanto a indivíduos, além de ter potencial na forma de ferramenta de educaçãoalimentar e nutricional.