O presente artigo apresenta os limites ambíguos entre a figura do monge dos inícios do monasticismo (séculos III e IV d.C.) e seus inimigos, os demônios. Se, por um lado, os demônios são entendidos como seres autônomos, dotados de independência existencial, eles também são, por vezes, descritos como pensamentos e imagens na mente dos monges. Entes do mundo que atacam os monges por dentro, é também em um combate contra eles que o monge se constitui enquanto sujeito. O conhecimento das artimanhas e disfarces do demônio é essencial para o monge se constituir enquanto tal. Sendo os demônios mestres do disfarce, a virtude fundamental do monge é o discernimento, habilidade que o possibilita descobrir a estratégia utilizada pelo demônio para o atacar. A ideia geral do artigo é defender que, mesmo sendo seu inimigo (e até por isso mesmo), os demônios são essenciais para a constituição do sujeito nos textos do monasticismo primitivo.