Esta tese, sobre viagens, viajantes e paisagens, nasceu com algumas viagens.Em julho de 2015, ao lado do meu marido Evandro e nossos amigos Gabriel e Gregório, eu caminhava pelos campos e matos cerrados da Chapada dos Veadeiros em Goiás. O Centro-Sul do Brasil passava por uma das piores secas e a cidade de São Paulo, onde moramos, enfrentava uma dura crise hídrica. Mesmo em plena estação seca, fomos afetados pela exuberância e abundância da região, na companhia de nosso guia Gustavo, que nos ajudou a atravessar as trilhas do Parque Nacional, sob sol e chuva. Uma expressão, que ouvi diversas vezes naquela viagem, me marcou profundamente e é, para mim, a concepção desta pesquisa: aquela região, suas plantas, a fisionomia de suas vegetações, seus relevos e rios, pareciam muito distintas das imagens e descrições sobre o Cerrado presentes em nossos livros escolares, normalmente retratando árvores tortuosas e ressecadas em meio a uma vegetação empobrecida.Ao retornar para São Paulo, afligida pela seca, coincidentemente testemunhei a criação de um cerrado urbano em meio a uma praça na região da Avenida Pompeia, projeto encabeçado pelo artista e explorador urbano, e hoje amigo, Daniel Caballero.A obra de "descolonização das paisagens" foi batizada de Cerrado Infinito e foi realizada, desde então, com plantio de mudas, arbustos e sementes da vegetação do Cerrado, que um dia ocupou, lado a lado com as frondosas árvores da Mata Atlântica, os vales e morros da cidade. Como Daniel nos conta, essa é uma história esquecida e silenciada, mas suas plantas ainda são encontradas em terrenos baldios e beiras de estradas e ruas pela região metropolitana, em áreas queimadas pelos moradores, ou de solo mais pobre. A obra-viva existe até hoje e passei os últimos anos aprendendo muito com o Daniel e as plantas do cerrado paulistano, a quem tanto agradeço.Naquele momento eu havia terminado uma pesquisa sobre a produção de ciências das mudanças climáticas em São Paulo, orientado por Stelio Marras na USP, e buscava um tema para iniciar meu doutorado, em que eu pudesse continuar a explorar questões de ciências, natureza e sociedade, paisagens e climas. Foi assim que conheci Lilia Schwarcz, minha orientadora, com quem aprendi nos últimos anos sobre a história dos viajantes e do Brasil, e a ler imagens e textos com todos os cuidados necessários para cada documento, para cada trajetória e biografia, sem contar os cuidados especiais com os meus próprio textos. Com essas viagens, percursos e experiências nasceu uma tese que buscava compreender a produção dos relatos dos viajantes naturalistas em meio às múltiplas paisagens tropicais. Agradeço à Lili e ao Stelio pela paciência, pelas trocas, leituras cuidadosas e oportunidades de discussão.Agradeço a CAPES e ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS/USP) pela oportunidade de pesquisa e a bolsa de doutorado, de outubro de 2016 a setembro de 2020.As discussões foram desenvolvidas ao longo de cursos de pós-graduação: como sobre literatura e antropologia, oferecido pela Fernanda Peixo...