Estudos anatomopatológicos, epidemiológicos, experimentais, clínicos e terapêuticos têm demonstrado exaustivamente a existência do vínculo entre a presença de alterações do metabolismo lipídico e doença aterosclerótica, particularmente a das artérias coronárias (DAC).As estrias gordurosas, consideradas precursoras das placas ateroscleróticas, começam a aparecer na aorta aos três anos de idade e, aos 15 anos, comprometem 15% dessa artéria. Nas coronárias, elas surgem a partir dos 15 anos de idade 1 . Na investigação realizada em Bogalusa 2 , verificou-se que, em crianças e adolescentes (idade variando entre sete e 24 anos, média 18 anos), falecidas durante o estudo, o comprometimento da aorta por estrias gordurosas mostrouse significativamente maior quando os níveis plasmáticos de colesterol total (CT) e LDL-C (determinados durante o estudo) e/ou o peso corpóreo estavam aumentados. Nas artérias coronárias, as estrias gordurosas também foram mais freqüentes na presença de níveis aumentados de CT e LDL-C (embora não significante); nos brancos e do sexo masculino, apresentavam-se significativamente associados aos valores de triglicérides (TG), VLDL-C, pressão arterial sistólica e diastólica e índice de massa corpórea. Em estudo multicêntrico 3 , em jovens de 15 a 34 anos (1079 do sexo masculino e 364 do feminino) falecidos em conseqüência de acidentes, homicídios e suicídios, foi verificada correlação significante entre valores aumentados de LDL-C e VLDL-C e diminuídos de HDL-C (determinados após a morte) e a extensão da severidade de lesões tanto na aorta como na coronária direita.Manifestações clínicas (infarto do miocárdio, angina, morte súbita) conseqüentes a lesões ateroscleróticas são comuns antes dos 20 anos nos estados hipercolesterolê-micos familiares, particularmente na forma homozigótica 4 . Evidências de disfunção endotelial em hipercolesterolêmi-cos familiares, de oito a 16 anos, foram verificadas por Celermajer e col 5 . Por outro lado, dados de estudos prospectivos são indicativos de que alterações do metabolismo lipídico, presentes na infância e adolescência, persistem na idade adulta, constituindo-se em importante fator de risco para o desenvolvimento das lesões ateroscleróticas. Resultados das investigações de Bogalusa 6 e Muscatine 7 demonstram que aproximadamente 50% das crianças com CT acima do percentil 75 (da curva de distribuição do Lipid Research Clinic) apresentarão valores de LDL-C elevados 10 a 15 anos mais tarde. No estudo de Bogalusa 6 também se verificou que 42% dos meninos brancos (9 a 14 anos), que apresentavam valores de HDL-C no quintil mais baixo, continuavam a apresentá-los nesses valores 12 anos mais tarde. Crianças e adolescentes com valores de TG >100 e 130mg/dL, respectivamente, e história familiar de DAC prematura, podem ser portadores de gens para dislipidemias genéticas, como, por exemplo, para a hiperlipidemia combinada familiar 8 . Levando em consideração a indiscutível participação das dislipidemias na aterogênese e diante do já exposto, é lícito inferir que há necessid...