INTRODUÇÃOA hipertensão arterial crônica (HAC) intercorrente na gestação, isolada ou associada à pré-eclâmpsia, representa intercorrência clínica relacionada com elevado risco de morbidade materna e perinatal.Em nosso meio, apesar de não existirem estatísticas atualizadas, estima-se a presença de HAC em 6,6% das mulheres inseridas no mercado de trabalho da Grande São Paulo, 2 sendo estes números semelhantes àqueles registrados nos EUA para mulheres com 18 a 39 anos 3 . Levando-se em conta que atualmente muitas mulheres planejam sua gestação após sua terceira década de vida, é possível afirmar que a presença de HAC na gestação seja um fenômeno progressivamente mais freqüente 4,5,6 . A circulação útero-placentária em gestantes portadoras de HAC pode ser prejudicada em graus variáveis, em função das modificações da microcirculação, mediadas por distúrbios funcionais, tais como ocorrem na pré-eclâmpsia ou decorrentes de lesões vasculares crônicas, resultando em queda expressiva da perfusão tecidual. Como resultante, ocorrem na placenta isquemia e infartos, muitas vezes em grande extensão, determinando insuficiência funcional e dificuldades para suprir as necessidades para o adequado desenvolvimento fetal em face da restrição da oferta de oxigênio e nutrientes, além de facilitar a ocorrência de eventos agudos como o descolamento prematuro da placenta.As bases fisiopatológicas atualmente conhecidas explicam em parte os resultados clínicos observados, uma vez que gestantes hipertensas com expressão clínica leve freqüentemente apresentam desempenho perinatal muito próximo da população normal. Tal constatação permite supor que, entre gestantes hipertensas crônicas, a reserva funcional da placenta tenha relação direta com seu status vascular em termos de comprometimento anatômico e de modificações mediadas pelo trofoblasto.Estes aspectos também devem ser considerados em termos de planejamento terapêutico para estas pacientes. Não há consenso na literatura em relação a esta questão, sendo que atualmente não existem respostas definitivas em relação aos riscos e benefícios do uso de hipotensores em gestantes com HAC leve ou moderada 7,8 . A análise morfológica ou através de marcadores histoquímicos dos vasos da placenta e do leito placentário têm avançado em busca da compreensão de mecanismos complexos que modulam a invasão trofoblástica e a remodelação dos vasos deste território durante a gestação. Autores pioneiros, como Dixon e Robertson (1958), 9 inauguraram a técnica da biópsia do leito placentário, procedimento que permite estudar a decídua basal e o miométrio subjacente Vários estudos seguindo essa metodologia descreveram alterações morfológicas das artérias uteroplacentárias quando intercorrente a HAC 10, 11, 1, 12, 13, 14 . Porém, não se encontra nestes trabalhos a