<p>A agrobiodiversidade engloba toda diversidade biológica manejada pelos agricultores/as para produção agrícola, seus saberes e práticas ancestrais associados. Neste trabalho, investigou-se a agrobiodiversidade e suas implicações na soberania alimentar de diferentes comunidades tradicionais do norte mineiro, utilizando os <em>quintais</em> como foco de estudo. Para tanto, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas em domicílios e nos respectivos <em>quintais </em>amostrados, reuniões e grupos focais em cada comunidade parceira, a saber: quilombola de Malhada Grande (Catuti/MG), vazanteira do Pau Preto (Matias Cardoso/MG), geraizeira do Sobrado (Rio Pardo de Minas/MG) e caatingueira do Touro (Serranópolis de Minas/MG). Em geral, segundo os parceiros, o <em>“quintal”</em> engloba: local ao redor da casa com plantio, criação de animais, trato diário, podendo ou não haver árvores. Nele encontram-se diferentes espaços, como a <em>horta</em> onde se cultivam plantas de ciclo curto. A importância local dos quintais para diversos fins foi revelada nos depoimentos, como no autossustento, permutas/partilhas de plantas e frutos, uso medicinal e <em>loci</em> de relações familiares e comunitárias. Registraram-se 133 etnoespécies, distribuídas em 126 espécies e 46 famílias botânicas, nos agroecossistemas de quintais estudados. Entre os diferentes usos alimentares elencados(83), organizou-se 15 categorias de preparo e consumo, nas quais se destacaram (i)consumo <em>in natura </em>e (ii)bebidas, pela maior riqueza de etnoespécies. A disponibilidade temporal dessa agrobiodiversidade é marcada pela sazonalidade, que define um ciclo anual fundamental: <em>tempo das águas</em> e <em>tempo das secas</em>; representando seis meses corridos de chuvas e estiagem, respectivamente. Em cada tempo do ciclo, as fases intermediárias revelaram maior porcentagem de etnoespécies/comunidade em produção, denotando etnoespécies e etnovariedades sazonalmente específicas, adaptadas ao clima semiárido regional. Conclui-se que os quintais, ambientes manejados, representam extensão cultural de tradições alimentares locais, revelam agrobiodiversidade notavelmente rica, cuja conservação e valorização são algumas das diversas estratégias agroalimentares que comunidades tradicionais têm para manter e garantir a alimentação, fundamentais na soberania alimentar.<strong></strong></p>