Em 27 de agosto de 1861 foi publicado no periódico “O Cearense”, jornal do partido liberal no Ceará, duas notícias referentes a problemas de jurisdição em Amarração (Atual Luís Correia / PI), à época vila cearense que fazia divisa com o Piauí. Estas notícias remetiam ao acusamento de recebimento de um ofício do então presidente da província do Piauí acerca de um conflito sobre a jurisdição dos empregados na Barra de Amarração. Na ocasião o governo provincial piauiense reclamava que a competência para nomeação de práticos cabia a capitania dos portos em Parnaíba, conforme regulamento da Marinha. No mesmo jornal o governo cearense solicita que o capitão do porto em Fortaleza ordenasse que os práticos nomeados para atuarem na Barra de Amarração que se retirem da localidade, cessando assim este conflito de jurisdição. Deste modo, questões litigiosas e conflitos na região em função de sua modernização, envolvendo o Piauí e Ceará tornaram-se cenas cotidianas e mesmo 19 anos depois, quando em 22 de outubro de 1880 através do Decreto nº 3.012 o governo brasileiro, após meses de debates no senado imperial (BAPTISTA, 2019), alterou a linha divisória das províncias do Piauí e Ceará, com o primeiro cedendo o vale do Crateús e em troca anexando a vila litorânea de Amarração, situações conflituosas continuaram a ocorrer. Dito isto, o objetivo deste artigo foi indicar os conflitos e situações de litígio que marcaram a vila de Amarração na segunda metade do século XIX e sua relação com a modernização deste espaço. A metodologia empregada constou de pesquisa bibliográfica, dialogando com autores que auxiliassem na compreensão do espaço estudado no recorte temporal selecionado, como Queiroz (1998), Rego (2010) e Baptista (2019), bem como autores que permitissem a compreensão dos conceitos de modernidade e modernização, como Berman (1986), e Lefebvre (1995), além de pesquisa documental hemerográfica através dos jornais cearenses “O Cearense” e “Pedro II”. Ao término da pesquisa foi possível elencar diversos episódios conflituosos em Amarração, especialmente relacionados a presença do “porto” e de embarcações que já haviam se tornado parte da paisagem cotidiana da Vila. Assim, considerada enquanto necessária por parte das elites piauienses para desenvolvimento e modernização da província através de um porto marítimo (REGO, 2010) a vila de Amarração foi palco de diversos conflitos entre o Ceará e o Piauí até o final do século XIX, a exemplo da questão da praticagem, desordens causadas pelas tripulações das embarcações que atracavam na vila, presença de migrantes cearenses em períodos de seca, chegada de doenças pelo porto, dentre outros.