Introdução: A medicina preventiva é tema de estudo dada a crescente evidência de poder causar mais dano que benefício, sendo amplamente reconhecido o interesse da população em ter consultas de rotina. O objetivo principal deste estudo foi conhecer as expectativas dos utentes relativamente às consultas de rotina nos cuidados de saúde primários e compará-las às perceções dos médicos relativas a essas expectativas.Métodos: Foi realizado um estudo observacional transversal, em 2023, aplicando dois questionários: um para utentes adultos e outro para médicos de família. Os convites para resposta ao questionário via Google Forms foram disseminados em redes sociais específicas. Para utentes idosos, realizou-se aplicação presencial por um dos investigadores. O questionário era composto por 25 questões sobre atitudes preventivas na consulta, exames analíticos e sua periodicidade e recomendações de acordo com o sexo e a idade, diferindo na linguagem utilizada.Resultados: Obteve-se uma amostra de 225 utentes e 100 médicos de medicina geral e familiar. Os utentes selecionaram em média 7,8 ± 9,7 atitudes preventivas na consulta e os médicos julgaram que eles teriam selecionado 4,6 ± 2,9 (p = 0.001). A auscultação cardíaca e pulmonar (82,6%), a quantificação de exercício físico (74,7%) e a avaliação de hábitos tabágicos (72,9%) foram as medidas mais selecionadas pelos utentes, sendo os exames mais selecionados a medição da glicemia (81,8%), o perfil lipídico (80,4%) e a análise da urina (75,1%). Para 68,2% dos utentes, a consulta de rotina deveria ser anual, tendo 88,0% dos médicos julgado que os utentes pretenderiam essa periodicidade. O nível socioeconómico populacional não influenciou significativamente os resultados.Conclusão: É importante que os médicos de medicina geral e familiar tenham conhecimento das expectativas dos utentes. Nesta amostra, os utentes demonstraram valorizar um maior número de atitudes médicas preventivas na consulta e mais testagem periódica analítica do que o antecipado pelos médicos. Os médicos acreditaram ainda que os utentes demonstrariam maior interesse na realização frequente de programas de rastreio.