Introdução: O vírus da hepatite B (VHB) é intrinsecamente oncogênico e relacionado ao desenvolvimento do carcinoma hepatocelular (CHC). Para rastreio desta neoplasia na infecção crônica pelo VHB (ICVHB), realiza-se ultrassonografia hepática a cada 6 meses, porém essa medida não é amplamente possível. Nesse contexto, os escores preditores de CHC podem ser utilizados para priorização dos pacientes de maior risco.
Objetivo: Avaliar o desempenho dos escores preditores de CHC, PAGE-B e mPAGE-B, nos portadores de ICVHB, descrevendo suas características clínicas, laboratoriais e incidência cumulativa desta neoplasia. Métodos: Estudo retrospectivo unicêntrico que avaliou pacientes com monoinfecção crônica pelo VHB atendidos na Disciplina de Gastroenterologia da Universidade Estadual de Campinas. Foram avaliados dados clínicos, como marcadores sorológicos do VHB, presença de cirrose, comorbidades e desenvolvimento de CHC. Os escores PAGE-B e mPAGE-B foram calculados ao diagnóstico da ICVHB. Análises dos fatores relacionados à ocorrência de CHC foram conduzidas, assim como incidência cumulativa de CHC e desempenho dos escores, com realização de curvas ROC (Receiver Operating Characteristic) e avaliação de áreas sob a curva ROC. Resultados: Foram incluídos 224 pacientes, com idade média ao diagnóstico da ICVHB de 38,71 anos, com predomínio de homens (66,1%), sendo que 45 pacientes (45/205; 22%) possuíam cirrose ao início do seguimento. Aincidência cumulativa de CHC em 3, 5 e 7 anos foi de 0,99%, 2,70% e 5,25%, respectivamente, estando relacionada na regressão logística univariada ao sexo masculino (p=0,0461), idade mais elevada (p=0,0001), cirrose ao início do seguimento (p<0,0001) e valores mais elevados dos escores PAGE-B e mPAGE-B (p=0,0002 e p<0,0001, respectivamente). Idade mais elevada, sexo masculino e cirrose no diagnóstico da ICVHB foram independentemente associados à ocorrência de CHC. As áreas sob a curva ROC do PAGE-B e do mPAGE-B foram relevantes, de 0,7906 e 0,7904, respectivamente, sem diferenças entre os escores (p=0,9967). O ponto de corte de ambos para melhor probabilidade de desenvolvimento de CHC foi localizado a partir do risco intermediário. Conclusão: Tanto PAGE-B como mPAGE-B apresentaram predição correta de desfecho CHC acima de 70% nesta população de hospital universitário, podendo auxiliar na priorização ao acesso aos instrumentos de saúde. Entretanto, estudos adicionais em diferentes populações de pacientes com ICVHB no Brasil são necessários para validar estes resultados.