RESUMOAs drogas antiepilépticas (DAE) são utilizadas por um enorme contingente de pessoas em todo o mundo -tanto no tratamento das epilepsias como para outros fins -frequentemente por um longo tempo. Por essas razões, torna-se fundamental o conhecimento sobre os potenciais efeitos adversos desses medicamentos, muitos deles envolvendo vários aspectos hormonais e metabólicos que devem ser do conhecimento do endocrinologista. Nesta revisão, foi abordada a relação das DAE com anormalidades no metabolismo mineral ósseo, balanço energético e peso corporal, eixo gonadal e função tireoideana, além de ter sido revisado o papel terapêutico dessas medicações no tratamento da neuropatia diabética. Arq Bras Endocrinol Metab. 2009;53(7):795-803.Descritores Drogas antiepilépticas; epilepsia; metabolismo mineral ósseo; obesidade; disfunção gonadal; disfunção tireoideana.
ABSTRACTThe antiepileptic drugs (AED) have been widely used for a great deal of people -in the treatment of epilepsy and other diseases -throughout the world. Continuous and prolonged use of AED may be associated with adverse effects in different systems, including a variety of endocrine and metabolic abnormalities. In this review, the relationship of AED with alterations in bone mineral metabolism, energy balance and body weight, gonadal function and thyroid metabolism was revised, as well as their clinical utility in the treatment of diabetic neuropathy. INTRODUÇÃO A s drogas antiepilépticas (DAE) são utilizadas no tratamento da epilepsia desde 1857, quando Locock usou sal de brometo com resultados positivos em mulheres com epilepsia catamenial (1). Desde então, inúmeros medicamentos foram introduzidos na prática clínica para o tratamento dos mais diversos tipos de epilepsia, uma doença crônica comum que atinge homens e mulheres em todas as faixas etárias, com incidência anual de 43 casos por 100 mil habitantes em países indus trializados e o dobro em países em desenvolvimento (2). No Brasil, a prevalência encontrada tem variado de 0,4% a 0,8% da população (3). Além do clássico uso para tratamento da epilepsia, as várias ações das DAE resultaram em uma ampliação de seu uso terapêutico e, hoje, elas são empregadas tanto no controle de desordens psiquiátricas, como ansiedade, esquizofrenia e transtorno bipolar, como em distúrbios neurológicos diversos, incluin do tremor essencial, cefaleia e dores neuropáticas (4). Em caráter experimental, as DAE têm sido testadas em pacientes com câncer e infecção por HIV, no tratamento para o abuso de drogas e álcool e, também, como agentes neuroprotetores (4).Os principais mecanismos de ação das DAE mais utilizadas incluem bloqueio dos canais de sódio ou de cálcio dependentes de voltagem, aumento da inibição mediada por GABA e bloqueio ao glutamato (5). A fenitoína, o fenobarbital e a carbamazepina são metabolizados por via hepática por meio do citocromo P450 ("drogas indutoras hepáticas"), ao passo que a enzima hepática uridina difosfato glucuronosil transferase (UGP) é responsável pela metabolização do valproato