O artigo tem como objetivo analisar as cartas de Lev Semenovich Vigotski, escritas no período de 1926 à 1934 e publicadas no Journal of Russian and East European Psychology. Esta é uma oportunidade de conhecermos um pouco mais sobre a realidade em que Vigotski viveu, e acessarmos seu itinerário intelectual, identificando os círculos de suas relações, suas preocupações acadêmicas e suas reflexões teóricas acerca da construção da teoria sócio histórica cultural. Tal tarefa ocorreu em dois momentos, primeiramente, na tradução e sistematização das cartas e, posteriormente, na análise dessas, embasada no referencial teórico de estudiosos da teoria vigotskiana. Após breve introdução do momento histórico da psicologia soviética, traçamos três perspectivas que nos auxiliaram a analisar as cartas: (1) a situação de sua saúde e os impedimentos para realizar seu trabalho; (2) uma reflexão crítica sobre a psicologia, com vistas a criar as condições para a emergência de uma nova psicologia; (3) a consolidação do grupo de trabalho, afastamentos e rupturas, em torno de questões relativas a psicologia e seus desdobramentos teóricos e metodológicos. Enfatizamos a maneira humanista com que Vigotski vivenciou esses momentos.
Palavras-chave:Cartas, Psicologia sócio histórica cultural, Vigotski.Este trabalho se inscreve num projeto mais amplo que tem como objetivo compreender a trajetória que Vigotski percorreu para construir a teoria sócio histórica cultural. Nossos esforços têm-se concentrado na leitura dos trabalhos do autor de uma forma cronológica, tentando abarcar toda a obra, e, acompanhando essa leitura, temos procurado identificar os momentos de construção e desconstrução da teoria, assim como as situações vividas por Vigotski, articulando-o com o seu tempo.Tal perspectiva teórica se aproxima de uma proposta indicada pelo próprio Vigotski, quando ele afirma que as explicações sobre as mudanças e o desenvolvimento de novas ideias num determinado campo científico deveriam estar relacionadas:(1) com o substrato sócio-cultural da época, (2) com as leis e condições gerais do conhecimento científico, (3) com as exigências objetivas que a natureza dos fenômenos objetos de estudo coloca para o conhecimento científico no estágio atual da investigação. Ou seja, em última instância, com as exigências da realidade objetiva que a ciência em questão estuda. (Vigotski, 1927(Vigotski, /2004 Esta perspectiva, por sua vez, também se articula com um movimento que tem apontado para novas formas de fazer história, seja do ponto de vista interpretativo, seja do ponto de vista metodológico. Nesse sentido, nos identificamos com a posição de Farr (2002) que, ao explicitar a história da psicologia social, recorre para história dos fatos, das instituições e das pesquisas
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