IntroduçãoO objetivo deste trabalho é analisar a inter-relação entre "raça", 1 gênero e erotismo na África do Sul, a partir da discussão de dois casos perfilados na Law Report e enquadrados na Immorality Actlei que proibia intercurso carnal "inter-racial", decretada em 1927 e que recebeu em 1950 (início da era do apartheid) uma nova emenda, que concedia ao Estado maior poder de vigilância e controle sobre os relacionamentos afetivo-sexuais "inter-raciais". 2 Meu objetivo é ajustar o foco para a percepção de "raça" que preside esse empreendimento, assim como dar visibilidade à importância das assimetrias de gênero e sexualidade na sua construção.Ao contrário da "etiqueta racial" brasileira, que impôs na esfera pública e política certo silêncio sobre as relações afetivo-sexuais "heterocrômi-cas", 3 na África do Sul tais relacionamentos foram regulados (e organizados) explicitamente mediante uma legislação específica, constituída sob a lógi-ca de uma razão de Estado. As idéias sobre separação e "mistura", assim como a própria construção da alteridade "racial" tiveram, no Brasil e na África do Sul, em um certo âmbito, tratamentos absolutamente diferenciados. A valorização do contato e da "mistura" no eixo das representações sociais no Brasil não exclui, entretanto, no interior dessa mesma esfera, a "separação" 4 -a própria tendên-