Em sua resenha de “Memories Dreams Reflections”, Winnicott diagnosticou Jung como sofrendo de uma cisão psíquica e caracterizou o conteúdo e a estrutura da psicologia analítica como moldados e condicionados principalmente pela busca defensiva de Jung por um “self que ele pudesse chamar de seu”. Esta análise patologizante continua a ser endossada por escritores junguianos contemporâneos. Neste artigo tento mostrar que a crítica de Winnicott é fundamentalmente equivocada, pois deriva de um modelo psicanalítico da psique, um modelo que considera toda dissociação como necessariamente patológica. Argumento que a compreensão de Jung sobre a psique difere radicalmente deste modelo e, além disso, que corresponde, em geral, ao tipo de modelo dissociativo que encontramos nos escritos de Frederic Myers, William James e Theodor Flournoy. Concluo que uma relação fecunda entre Psicanálise e Psicologia Analítica depende da consciência dessas importantes diferenças entre os dois modelos psíquicos.