As alterações climáticas estão entre os principais desafios atuais globais. Configuram-se como globais pois as alterações dos padrões climáticos não atingem a todos da mesma forma, mas todos serão afetados. Relatórios recentes do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), designadamente o sexto (Intergovernmental Panel on Climate Change, 2023), evidenciam a intersecção entre localização geográfica, fatores económicos, políticos e socioculturais. Isso significa que fatores como classe social, raça, etnia, género e idade, que estão associados a diferentes níveis de vulnerabilidades sociais, influenciam na probabilidade de sofrer com os efeitos do fenómeno e aumentam as dificuldades de enfrentamento. Destacamos, neste número, os desafios sociais relacionados com a ação climática e a justiça climática.Essa intersecção entre a emergência climática e outros problemas sociais contemporâneos torna cada vez mais relevante trazer os desafios sociais e culturais ao debate público. O historiador Dipesh Chakrabarty, referência nos estudos pós-coloniais, tem chamado a atenção para a diferenciação e dicotomia entre história "natural", "humana", planetária e global. Ele argumenta que por muitos anos pouco se falou da questão ambiental na história, sobretudo o impacto humano na história da Terra. Do ponto de vista de Chakrabarty (2021), são conceitos interligados, uma vez que a condição humana mudou e está cada vez mais planetária. Segundo o autor, planetário significa a ligação do sistema terrestre, das espécies e sociedade humana no planeta, enquanto o global refere-se às interações, consumo, capitalismo e extrativismo.