O câncer é um dos principais problemas de saúde pública no mundo. Dentre as neoplasias primárias que acometem o fígado, o carcinoma hepatocelular (HCC) é a mais frequente. Diversos fatores de risco predispõem ao HCC, entre eles a doença hepática gordurosa não alcóolica (NAFLD). Segundo estudos prévios do grupo, a β-ionona (BI), apresenta potencial quimiopreventivo na hepatocarcinogênese, promovendo redução de lesões preneoplásicas (LPN). Assim pretendeu-se investigar se a NAFLD potencializaria o desenvolvimento de LPN em ratos Wistar submetidos ao modelo do hepatócito resistente (RH) na etapa de iniciação/promoção inicial da hepatocarcinogênese e se a BI apresenta efeito quimiopreventivo nesse contexto. Para tanto, os animais foram distribuídos em 4 grupos experimentais: grupo não-tratado (NT), grupo submetido ao RH (RH), grupo submetido ao RH e ao modelo de NAFLD, que consiste na administração de emulsão hiperlipídica, (AS) e grupo AS tratado com BI (AS + BI). Em uma primeira instância, 5 animais pertencentes aos grupos NT, AS,AS + BI foram eutanasiados após 6 semanas de administração de emulsão hiperlipídica, antes da aplicação do modelo RH, para se confirmar o desenvolvimento da NAFLD. Foi possível observar que a administração de emulsão hiperlipídica durante 6 semanas foi suficiente para o desenvolvimento de esteatose hepática. Após as 6 semanas foi introduzido o modelo do RH concomitante à administração da emulsão hipercalipídica até o fim do experimento na 13 a semana. Após 13 semanas o grupo AS apresentou maiores (p<0,05) valores de focos de inflamação, hepatócitos balonizados e grau de esteatose hepática em relação ao grupo AS+BI, assim como maiores (p<0,05) níveis séricos de triacilgliceróis, colesterol, HDL, LDL, VLDL, e maior (p<0,05) valor de MDA em relação ao grupo RH embora sem diferença estatística. O grupo AS também apresentou maior (p<0,05) incidência, número total e multiplicidade de nódulos, além de maior (p<0,05) número e tamanho de LPN persistentes (pLPN) e índice de proliferação quando comparado aos grupos RH e AS+BI. O grupo AS + BI, por sua vez, demonstrou menores (p<0,05) valores de escore de células ovais e menores valores de comprimentos de cometa e danos no DNA quando comparado ao grupo AS, embora sem diferença estatista para este último parâmetro. Em relação à expressão gênica, o grupo AS apresentou menores (p<0,05) valores de expressão do gene Hmgcr em relação ao grupo RH e maiores (p<0,05) valores dos genes Insig 1 e Thy 1 quando comparados ao grupo AS+BI. Portanto, no contexto de esteatose hepática associada ao modelo do RH, a administração de BI durante a etapa de iniciação/promoção em ratos Wistar resultou em atividade quimiopreventiva que se deu pela diminuição de pLNP, redução da proliferação celular e do número de células ovais, consideradas potenciais alvos para o desenvolvimento da hepatocarcinogênese, entretanto os genes analisados parecem não serem modulados pela BI.