Na blastomicose sul-americana, moléstia endêmica em nosso meio, o acometimento do sistema nervoso é relativamente freqüente; no entanto, o estudo sistematizado do quadro clínico provocado pela localização desta micose neste sistema ainda não foi focalizado, exceto no trabalho de Lacaz e col. 18 , em 1947. De acôrdo com os dados da literatura, a maior parte dos casos relatados se refere a achados necroscópicos ou neurocirúrgicos, não tendo sido prèviamente suspeitada, na maioria das vêzes, a etiologia paracoccidióidica. Fazem exceção a esta regra apenas os casos mais recentemente publicados, em que o evidente comprometimento de outros setores orgânicos despertou a suspeita sôbre a natureza do processo neurológico. Em geral o diagnóstico de certeza é difícil pela escassez de meios utilizá-veis para determinação etiológica. A falta de exame neurológico sistematizado nos pacientes que apresentam a micose e, de outra parte, a sintomatologia por vêzes bastante grave das outras localizações, podem fazer passar despercebidos sinais discretos de acometimento do sistema nervoso central (SNC) e/ou de seus envoltórios. Além disso, a lesão nervosa pela paracoccidioidomicose não tem tradução clínica apreciável nas formas discretas ou iniciais da doença, podendo regredir, em certo número de casos, com a terapêutica empregada. Conseqüentemente, só serão diagnosticados os casos com manifestações neurológicas suficientes para alertar o clínico.É objetivo dêste trabalho demonstrar, em um grupo de doentes com blastomicose sul-americana, que o exame neurológico, complementado pelo exame do líquido cefalorraqueano (LCR), pode fornecer subsídios para: a) comprovar o acometimento do sistema nervoso central e/ou de seus envoltórios pela doença; b) determinar a natureza meningítica, meningencefálica difusa ou localizada (pseudotumoral), das alterações neurológicas apresentadas por êsses doentes; c) verificar se estas alterações podem ocorrer precocemente, em fase pré-clínica da neuroblastomicose.