A ideia deste artigo é discutir a afirmação que surgiu durante o trabalho de campo desenvolvido entre músicos populares indígenas do Noroeste Amazônico brasileiro: todo instrumento musical possui "alma". A partir dessa afirmação, busca-se desenvolver relatos etnográficos para sustentar que na prática da música popular entre os Yepá-mahsã, os instrumentos musicais são percebidos como "pessoas" (não-humanas). Desse modo, a música kuximawara do Noroeste Amazônico constitui uma cena fértil para o pensamento e prática indígena, especialmente no que se refere à música do ritual cotidiano. Para a reflexão, expõe-se um pequeno conjunto de dados etnográficos no qual exemplos descritivos apresentados pelos interlocutores demonstram como a música popular articula conceitos e práticas do pensamento indígena do povo Yepá-mahsã. Esses exemplos buscam evidenciar como os instrumentos musicais "estrangeiros" são concebidos por meio da cosmologia indígena e se relacionam com a origem dos "instrumentos sagrados". Reflito, inversamente, como a ideia de um instrumento "moderno" como a guitarra foi, pouco a pouco, descontruindo-se para que eu compreendesse que, a partir da lógica Yepá-mahsã, todos os instrumentos musicais do mundo eram resultantes da ação dos deuses em um passado mitológico.
ResumoApresento um conjunto de expressões que surgiram no decorrer do trabalho de campo entre músicos indígenas de São Gabriel da Cachoeira, Amazonas, Brasil. Esta lista de expressões representa práticas e conceituações utilizadas entre indígenas do Noroeste Amazônico que praticam e escutam música popular. Sobre as bases de um repertório específico, os músicos indígenas praticam sequências musicais que duram mais de 12h, criam um gênero local chamado kuxiymauara e praticam o "amanhecer o dia". Em tese, a música popular proporciona um contexto profícuo para a lógica, escuta, prática e interpretação indígena de um repertório que agrega música brasileira, colombiana e venezuelana. Desenvolve-se a ideia de uma agenda política na medida em que a música popular apresenta uma cena, um espaço no qual se articula a prática e o pensamento ameríndio sobre música. AbstractIn this article is presented a set of expressions wich emerged during the course of field work among indigenous musicians from São Gabriel da Cachoeira, Amazonas state, Brazil. This list of expressions represents practices and concepts used among indigenous people of the Northwest Amazon who practice and listen popular music. On the basis of a certain repertoire, indigenous musicians practice musical sequences that last more than 12 hours, create a local genre called kuxiymauara and practice "dawning the day". In thesis, popular music provides a useful context for the logic, listening, practice and indigenous interpretation of a repertoire that aggregates Brazilian, Colombian and Venezuelan music. The idea of a political agenda is developed to the extent that popular music presents a scene, a space articulating Amerindian practice and thinking about music. ResumenEn este artículo se presenta un conjunto de expresiones que surgieron en el transcurso del trabajo de campo entre músicos indígenas de São Gabriel da Cachoeira, Amazonas, Brasil. Esta lista de expresiones representa prácticas y conceptualizaciones utilizadas entre indígenas del Noroeste Amazónico que practican y escuchan música popular. Sobre las bases de un repertorio específico, los músicos indígenas practican secuencias musicales que duran más de 12h, crean un género local llamado kuxiymauara y practican el "amanecer el día". En la tesis, la música popular proporciona un contexto provechoso para la lógica, escucha, práctica e interpretación indígena de un repertorio que agrega música brasileña, colombiana y venezolana. Se desarrolla la idea de una agenda política en la medida en que la música popular presenta una escena, un espacio en el que se articula la práctica y el pensamiento amerindio sobre música.
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