Neste curto espaço de discussão, sob a tela da expressão literária na qualidade de mecanismo de perpetuação de práticas culturais, talvez fosse interessante tratar de problemas como a leitura em papel versus leitura na tela, provocar um pouco mais a chamada "liberdade de expressão" via internet -enquanto utopia, mas rara realidade pelas múltiplas maneiras de controle (inclusive pelos próprios provedores de internet e de telefonia móvel) -e questionar a premissa da ubiquidade de acesso, quando em boa parte das comunidades não há sequer eletricidade.Contudo, essas questões estão mais na área de uma sociologia da leitura do texto literário que propriamente de literatura e novas mídias. Observadas tais limitações, após um tratamento perfunctório da literatura no mundo digital, faremos: i) uma visitação à disponibilização das fontes primárias e secundárias como preponderante e prevalente em países com direito autoral mais ou menos benéfico à pesquisa literária; e ii) uma rápida discussão acerca das materialidades da literatura, aqui entendidas como as relações entre os meios em que a expressão literária se faz presente, todos carregados de significância e significado. Ainda admirável mundo novo?O uso de computadores pessoais (nas suas variantes desktop, notebook, ultrabook, netbook, tablet, smartphones e reader, sem que essa listagem seja exaustiva) e da internet é fato mais que comum nos últimos dez anos, particularmente no ambiente acadêmico. Ainda que seja relativo esse afastamento, podemos dizer que já vai longe o tempo da novidade e dos "futurismos" ou futurições, a anunciar as salas de aula sem papel e a pesquisa feita em tempo recorde. Nas áreas de letras e de informática, ainda que as ansiedades sobre o assunto já ocorressem bem antes de 2003, marcamos esse ano como o princípio da discussão mais ampla em termos de pesquisa compartilhada, quando aconteceu, na Universidade 1 Doutor em literaturas hispânicas, professor do
http://dx.doi.org/10.5007/1807-9288.2015v11n1p420Se o conceito de literatura é marcado por discussões e reformulações ao longo da história, parece-nos importante partir da ideia que “as escritas de si” presentes na pós-modernidade apontam para a revisão de algumas noções a respeito do ficcional e da literariedade presentes em textos que são veiculados na internet, especificamente o blog. A escrita de autoria feminina, tradicional espaço de expressão subjetiva recolhida muitas vezes apenas em diários íntimos, encontrou na internet um meio para fazer ecoar vozes antes silenciadas devido à condição da mulher na sociedade e, portanto, também terá destaque dentre os assuntos aqui discutidos, ao lado de reflexões sobre a canonicidade de textos e da configuração do blog como espaço de autorreferencialidade e de publicidade da escrita literária.
O poeta Ivan Junqueira retoma uma tradição de Augusto dos Anjos ao tratar da morte como algo inevitável. O "saber a pêsames" enquanto estética denota a manutenção da elegia pastoral como forma poemática de grave interesse. A contemplação do silêncio mortuário enquanto reflexo de um eu-lírico ensimesmado corporifica a sua humanidade em tempos de desapego e de desprezo. O contexto é aquele de uma ressaca das mortes da Grande Guerra, de um afastamento do holocausto, quando parece esvaziada a noção da morte impensável da vida sem valor; por outro viés, é ele o poeta de uma melancolia exasperada pelo esvaziamento de um futuro inalcansável. A morte, em Ivan Junqueira, é motivo de uma tristeza incompreensível.
No seriado televisivo X-Files (no Brasil, Arquivos X), a expressão "a verdade está lá fora" utilizada na maior parte dos episódios (The truth is out there) sinalizava a compreensão de que haveria outra verdade, além daquela aceita pelos círculos oficiais. A atitude burocrática e conspiratória daqueles que dominam os mecanismos oficiais era de negativa absoluta das outras possibilidades de compreensão do mundo. Quero usar tal contexto para sinalizar que há outra verdade além daquela geralmente aceita pela pesquisa acadêmica. Em outros termos, sem qualquer tom salvacionista e com um grau menor de denúncia de conspiração, quero apontar que muito tem sido feito para negar o valor do material disponibilizado de maneira eletrônica/digital, através da internete, apesar de sua evidente qualidade e de haver apenas diferença de meio em relação a publicação em papel. Na área de literatura, nossos pesquisadores desde o início do século XX fizeram sua recolha do estado da arte lendo minuciosamente catálogos de bibliotecas, ficha após ficha, dependendo sempre da habilidade de catalogação das bibliotecas e do seu acervo. Em várias bibliotecas, o balcão de referência era fundamental para o apontamento e a recolha de fontes secundárias; por outro lado, os orientadores também serviam de fonte através de suas memórias muitas vezes prodigiosas, mencionando aqui a título de exemplo os professores universitários Teófilo Braga, Rodrigues Lapa e Vítor Manuel de Aguiar e Silva. Essa atitude de recolha das fontes é aquela descrita por Umberto Eco em seu Come si fa uma tese di laurea (no Brasil, Como se faz uma tese; em Portugal, Como se faz uma tese em ciências humanas). Anoto ancilarmente que a tese di laurea era o instrumento de conclusão dos cursos de graduação na Itália, em conformidade com o Decreto Régio 1269 de 1938, em seu artigo 39, condição reconhecida por Umberto Eco logo no início de seu texto ao tratar da razão e do significado de uma tese. Nada obstante, o método descrito por Eco vale para a pesquisa independentemente de seu nível. Quando Eco discute a escolha do tema (item 1.4), ele argumenta que há quatro questões fundamentais; entre elas, que as fontes devem ser do alcance material do estudante e que sejam manuseáveis, ou seja, que estejam ao alcance cultural do estudante. E aqui reside oprincipal elemento a matizar a pesquisa feita hoje, com o auxílio das fontes digitalizadas e "bancariamente" organizadas (os tais bancos de dados). Não só há uma quantidade imensa de
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