O ethos e a argumentação são de grande contribuição para o estudo das entrevistas literárias (Yanoshevsky, 2014, 2011). Propõe-se neste artigo analisar duas entrevistas do escritor francês Michel Butor (1926-2016), tendo sido a primeira realizada no momento de comemoração dos cinquenta anos da obra de Proust, em dezembro de 1963, e a segunda, cinquenta anos depois, em celebração ao recebimento do Grande Prêmio da Académie Française pelo conjunto da obra de Butor (agosto de 2013). Com o objetivo de melhor compreender a co‑construção da imagem do escritor nessas entrevistas literárias, ocorridas em dois momentos distintos de sua carreira, o artigo evidenciará, ao longo da análise, as contribuições dos entrevistadores, em especial durante a segunda entrevista, na co-construção das imagens do escritor, bem como a forma como a obra de Proust adquire, na narrativa de vida de Butor, um sentido mais amplo e, portanto, mais poético.
O escritor francês Michel Butor (1926-2016) refletiu sobre a voz e os efeitos da vocalidade e da oralidade na tradução, enquanto criação literária, e na leitura enquanto performance. Para este presente ensaio, proponho um percurso de análise que se inicia com o livro sonoro Pensées à voix haute (BUTOR, 2017) e de sua relação com as teorias sobre a voz (Zumthor, 2018; Dolar, 2014; Cesarino, 2014; Cavarero, 2011; Meschonnic, 2006), passando pela técnica de registro sonoro e de tradução do escritor para a elaboração do poema “Manhattan invention” (BUTOR, 2008 [1962]; 2004), culminando na análise de seu livro para crianças Zoo (BUTOR, 2001) do ponto de vista da formação do leitor na infância e da performance da leitura em voz alta. Butor, analisado segundo os teóricos da voz, imprime na tradução e na leitura o que há de mais contemporâneo dentro dos estudos discursivos: a abertura às múltiplas vozes a partir da unicidade vocálica.
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