Arq Bras Endocrinol Metab vol 47 nº 4 Agosto 2003 410 RESUMOA síndrome metabólica (SM) é caracterizada por alterações no metabolismo glicídico, obesidade, hipertensão e dislipidemia. Estas alterações metabólicas interrelacionam-se com diversos eixos endócrinos controlados pelo hipotálamo e pela hipófise. A obesidade central parece relacionar-se a uma hiperativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, como também do sistema nervoso simpático, que poderia levar a um quadro de hipercortisolismo sub-clínico e hipertensão arterial. A SM é também um estado de hipo-somatotropismo relativo relacionado à gordura visceral. Além disso, níveis elevados de ácidos graxos livres e a hiperinsulinemia, secundários à resistência insulínica, estão relacionadas a um bloqueio do eixo somatotrófico. Em homens, a SM relaciona-se a um hipogonadismo tanto por diminuição de gonadotrofinas como por inibição direta da produção de testosterona. Já nas mulheres, existe um excesso de produção de androgênios, principalmente relacionado à hiperinsulinemia, aumento da atividade da aromatase e da liberação de LH. Desta forma, a SM é um estado relacionado a importantes modificações nos mecanismos de feedback responsáveis pelo correto funcionamento dos eixos neuroendócrinos. The metabolic syndrome (MS) is characterized by alterations in carbohydrate metabolism, obesity, hypertension and dislipidemia. These metabolic alterations interfere with some endocrine axes controlled by the hypothalamus and the pituitary. Central obesity might be associated to a state of subclinical hypercortisolism and hypertension, secondary to an activation of the hypothalamic-pituitary-adrenal axis and the sympathetic nervous system. MS is also a state of relative hyposomatotropism, probably related to visceral fat. Furthermore, high levels of free fat acids and hyperinsulinemia, secondary to insulin resistance, can contribute to a blockade of the somatotropic axis. In men, MS is related to a state of hypogonadism caused by impairment in gonadotropin secretion and testosterone production. Women exhibit excessive androgen production, secondary to hyperinsulinemia, high levels of LH and to an increase in aromatase activity. In summary, MS is a condition linked to important modifications in feedback mechanisms responsible for the correct functioning of the neuroendocrine axes.
RESUMOVários estudos sugerem que existe uma hiperatividade do eixo hipotálamo-hipofisário-adrenal (HHA) na obesidade, com maior acúmulo de gordura na região abdominal. Estes trabalhos demonstram que, após injeções de hormônio liberador de corticotropina (CRF) ou hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) e ainda através de testes de stress, os níveis de cortisol estão aumentados em comparação com pacientes com deposição periférica de gordura. Além do mais, alguns estudos mostram que em pacientes deprimidos, onde a hiperatividade do HHA é uma alteração endócrina importante e conhecida, o volume das adrenais está aumentado quando comparado com normais. Para investigar se o teor de gordura visceral de alguma maneira se relaciona com o volume das adrenais, 52 mulheres com idade entre 19 e 54 anos, com diferentes índices de corpulência, foram estudadas através de medidas antropométricas como peso, índice de massa corporal (IMC), cintura e relação cintura-quadril (RCQ). As áreas de gordura visceral (GV) e subcutânea (GSC), além do volume das adrenais, foram medidas através da tomografia computadorizada. Houve uma correlação extremamente significativa entre as medidas de distribuição de gordura (RCQ e cintura) e a GV, sendo que a RCQ não se correlacionou com a GSC. O somatório do volume das adrenais mostrou uma correlação positiva e significativa com a RCQ (r = 0,272, p = 0,02) e uma correlação positiva, mas no limite da significância com a GV (r = 0,228, p = 0,05), não mostrando qualquer correlação com a GSC. Além disso, o somatório do volume das adrenais foi maior naquelas com GV ³ 120 cm 2 quando comparado com pacientes com área de GV < 120 cm 2 (p = 0,05). Portanto, o estudo sugere que o depósito de GV parece inter-relacionar-se com a hiperatividade do HHA, aqui estimada anatomicamente através do volume das adrenais, glându-la alvo deste eixo. ABSTRACTMany studies suggest that there is a hyperactivity of the hypothalamicpituitary-adrenal (HPA) axis related to obesity with accumulation of fat in the abdominal region. Some studies demonstrate that after the injection of corticotrophin-releasing hormone (CRH) or corticotrophin (ACTH) and according to the results of stress tests, the levels of cortisol are increased when compared to patients with peripheral fat deposition. Moreover, some studies show that in depressed patients, where the hyperactivity of HPA is known and represents an important endocrinological change, the adrenal volume is increased. To investigate if the amount of visceral fat is related in some way to adrenal gland volume, a group of 52 women with different corpulence indexes was studied. Anthropometries measures, such as weight, body mass index (BMI), waist circumference and waist-to-hip ratio (WHR) were checked. The areas of visceral and subcutaneous fat, as well as adrenal gland volumes, were checked by abdominal computed tomography. There was an extremely relevant correlation between the measurements of central fat deposition (WHR
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