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A relAtividAde do tempo em "A voltA do mArido pródigo" de guimArães rosA LITERATURA

Ao longo do período de colonização e até o início do século XX na região das minas no Brasil, houve uma dupla articulação de fluxos, que gerou especificidades na organização econômica e social: a ligação com as vias inter-regionais movimentou uma economia exportadora, enquanto, na região, organizou-se uma economia de abastecimento, por meio de uma rede de caminhos regionais e vicinais. O conto de Guimarães Rosa descreve o momento da transição, no qual esta estrutura duplamente articulada estava prestes a ser rompida: a construção da estrada entre São Paulo e Belo Horizonte significa, não apenas a ligação entre os dois importantes centros, mas anuncia, por onde passa, uma transformação no sertão e sua incorporação aos fluxos inter e extra regionais, dentro de uma dinâmica de globalização.

Os antigos arraiais, em sua maioria, deram origem às atuais cidades. Contudo, antes dos arraiais, foram as sesmarias, grandes extensões de terras concedidas pela Coroa Portuguesa a abastados proprietários no entorno dos caminhos com a finalidade de povoá-las e cuidar das passagens de pessoas e mercadorias. A Picada de Goiás, oficializada como estrada real em 1736, cumpriu o papel de fomentadora da paisagem no Oeste Mineiro. Embora a mineração fosse a responsável por ter trazido grande contingente populacional para a região, as atividades da pecuária, agricultura e comércio que a fizeram prosperar. A sesmaria que abarcava a região do Arraial de Perdões pertencia a Constantino Barbosa da Cunha, tendo seu registro regularizado em 16 de junho de 1766 e vendida por seus herdeiros a Romão Fagundes do Amaral, em 1771. Foi fundador de Perdões e já residia nas imediações do Rio Grande, onde começou garimpando ouro, todavia prosperando como fazendeiro e comerciante. Sesmeiro, suas terras eram extensas abrangendo o Quilombo do Ambrósio, permeando a Picada de Goiás, dividindo com Rio Lambari, Rio Jacaré e Rio Grande, indo até as divisas das propriedades do Inácio de Pamplona-adentro. Construiu a igreja para Bom Jesus de Perdões, em ponto alto da propriedade, ficando esta pequena, logo foi erguida outra para arraial que crescia. Para preservar e conservar as antigas construções, ainda do tempo do Arraial de Perdões, entre elas a atual Igreja de Nossa Senhora do Rosário-a primeira a ser construída por Romão Fagundes do Amaral em homenagem a Bom Jesus de Perdões-e o templo do padroeiro da cidade a proposição do tombamento estadual do centro histórico. O tombamento estadual embora tenha o interesse de preservar e conservar a materialidade das edificações, preocupa-se também com a imaterialidade do lugar-as memórias passadas de geração para geração e se perpetuam contextualizando a paisagem em contínua construção. Assim, o presente artigo tem o objetivo de apresentar os valores atribuídos ao patrimônio cultural do Centro Histórico de Perdões.