RESENHA/REVIEWNão é tão comum, em Análise do Discurso, que um mesmo trabalho consiga reunir uma formulação teórica original e rigorosa a um levantamento e análise de corpus amplo e criterioso. É o caso de Gênese dos Discursos, obra de Dominique Maingueneau lançada na França em 1984, que agora tem sua versão em português através da tradução de Sírio Possenti e da publicação da Criar Edições, de Curitiba.Tratava-se da primeira vez em que Maingueneau postulava novos conceitos teóricos e metodológicos, e a proposta que apresenta articula, no nível do discurso, elementos como "enunciado e enunciação, linguagem e contexto, fala e ação, instituição lingüística e instituições sociais" (pp. 24 e 25). Essa visão ampla e integradora do que o autor chama de práticas discursivas perpassa toda a obra, que, com ousadia intelectual, sustenta com fôlego, de um capítulo a outro, o que conceitua.Em sua introdução, Gênese dos Discursos apresenta uma caracterização geral do que são discursos, definindo-os "como integralmente lingüísticos e integralmente históricos" (p. 16), isto é, objetos que se constituem através de uma dupla restrição: a do dizível na língua e a do dizível num dado tempo-espaço histórico. O trabalho teórico da proposta de Maingueneau se pautará por dar relevância a esses dois aspectos do discurso, articulandoos na análise.Em busca dessa articulação, não cabe pensar no texto como sendo composto de uma estrutura profunda e uma superficial, a primeira mais ligada à história e a segunda à realização lingüística final -ou terminal -
RESUMO:Aborda-se aqui a noção de sujeito da Análise do Discurso, especialmente a partir de textos de Michel Pêcheux da década de 1980, para relacioná-la à noção de corpo-si da Ergologia, conforme postulada por Yves Schwartz. A partir dessa articulação, analisam-se canções de trabalho cantadas por prisioneiros em atividade coletiva de derrubada de árvores no Texas na década de 1960. Tal articulação contribui para que a AD possa analisar o "deslocamento tendencial do sujeito enunciador", conforme noção postulada por Pêcheux (1981), e também para que a Ergologia possa complexificar sua compreensão de linguagem, considerando a opacidade do discurso. As considerações finais apontam para a ideia de que o debate de normas e valores, conceituado pela Ergologia, pode ser visto como o próprio objeto da Análise do Discurso, uma vez que inclui o interdiscurso e as práticas discursivas. PALAVRAS-CHAVE:Análise do Discurso. Ergologia. Canções de trabalho. Sujeito. Corpo-si.ABSTRACT: This paper discusses the notion of the subject of discourse analysis, especially from the writings of Michel Pêcheux in the 1980s, to relate it to the notion of "body-self" of Ergology, as postulated by Yves Schwartz. From this articulation, we analyze work songs sung by prisoners in the collective activity of felling trees in Texas in the 1960s. Such articulation contributes to the analysis by the discourse analysis of the "tendential displacement of the enunciator subject" according to the notion postulated by Pêcheux (1981), and also so that Ergology can complexify its understanding of language, considering the opacity of discourse. The conclusions point to the idea that the discussion of norms and values, conceptualized by Ergology, can be seen as the object of discourse analysis, as it includes the interdiscourse and discursive practices.
Resumo: As práticas discursivas intersemióticas presentes nos cantos de trabalho são aqui abordadas através de triangulação teórica entre a análise enunciativa do discurso, a ergologia e a etnomusicologia. O objetivo principal é analisar o modo pelo qual muitas experiências humanas, em diversas culturas, desmentem o discurso da "Cigarra e da Formiga", que caracterizo como o discurso que vincula a música (indexando toda a arte) à ociosidade, que desvincula a música da vida cotidiana e que considera o trabalho apenas um peso, uma atividade meio, em que o prazer não se faz presente. Um vídeo sobre o trabalho em uma Casa de Farinha da Comunidade de Barreiras no município de Barrocas, no Estado da Bahia (Brasil) é descrito e analisado, possibilitando a conclusão de que, em mutirões em que se trabalha cantando, o corpo-si (cf. SCHWARTZ) integra aspectos da identidade, do cumprimento da tarefa e da memória coletiva do grupo. Palavras-chave: Linguagem e trabalho; Ergologia; Práticas discursivas intersemióticas; Cantos de trabalho Abstract:The intersemiotic discursive practices present in work songs are addressed here through theoretical triangulation between enunciative analysis of discourse, ergology and ethnomusicology. The main objective is to analyze how many human experiences in various cultures belie the discourse of "The Ant and the Grasshoper", that I characterize as the discourse that links music (indexing all art) to idleness, which decouples the music of everyday life. And as the other side of the coin, which considers the work just a burden, just a way to reach something, in which pleasure is not present. A video about working in a flour mill in the Barreiras Community, in the city of Barrocas in the State of Bahia (Brazil) is described and analyzed, allowing the conclusion that, in task forces where they sing while they work, the body-self (cf. SCHWARTZ) integrates aspects of identity, the fulfillment of the task and the collective memory of the group.Keywords: Language and work; Ergology; Intersemiotic discursive practices; Work songs 1 Linguagem, trabalho e música A investigação da relação entre a linguagem e o trabalho constitui uma linha de pesquisa bem estabelecida pelo menos há duas décadas na área da Linguística Aplicada no Brasil. O presente artigo se insere nesta linha de pesquisa, mas inclui um terceiro elemento, também universal e também uma prática humana, a música. Primeiramente penso que é bom explicar por que e como concebo estes três elementos como universais humanos e também por que os concebo como práticas.Comecemos pela linguagem, e comecemos falando um pouco indistintamente de "linguagem verbal" e "língua". Todas as sociedades humanas de que se têm notícia desenvolveram e desenvolvem algum tipo de linguagem verbal, em que os signos linguísticos são organizados a partir de um arranjo de possibilidades (cf. SAUSSURE, 1916). Os linguistas podem divergir sobre o quanto podemos considerar essas possibilidades um sistema, ou sobre o quanto esse sistema é aberto 1 .
This article discusses the role of music in work activities by considering music an intersemiotic discursive practice. It uses an interdisciplinary approach composed of discourse analysis, ethonomusicology and ergology in order to be able to examine the topic including music and work factors, put together by discourse. Firstly, the boundaries of traditional work songs are expanded through two unconventional examples: one in an advertisement, and the other one in a product packaging. Then through that expanded framework, it explores examples of two Brazilian communities, one from Bahia and the other one from Maranhão (both in Brazilian Northeast) that sing while they work in extractivist and agricultural activities. The conclusion points out that the relationship between music and work far surpasses the traditional framing of work songs. To better understand the role of music in the discourse of work activities, scholars need to take into account the renormalization which is brought into play and the discursive communities concerned by those complex discursive practices. KEYWORDS: Language and work; Music at work; Work songs; Intersemiotic discursive practices; Renormalization. RESUMO First StepsThis article aims to highlight how music and work are discursive practices and showcases the importance of the relationship between music and labor in different kinds of work. The current literature on music and work comes mainly from perspectives in anthropology, ethnomusicology, and folklore studies. These fields consider this issue in terms of the "work song" repertoire -songs that are sung by traditional communities only in traditional ways of working and singing. Even this well-known field of study lacks in research if one wants to move beyond folklore. Here is a contribution to fill some of that gap with this discussion about work songs.A larger intent of this article is to displace the narrow "work-song-approach" as best characterized by the search for untouched authenticity performed by idealized traditional workers. Instead, I investigate the role of musical discourse in different work activities while attempting not to pre-judge the ways that workers use music in their dayto-day activities often without noticing it. To do so, the article first pushes the boundaries of work songs through unconventional contexts and then explores some examples of semi-traditional work songs through that expanded framework.In the field of Applied Linguistics, the study of the relationship between language and work is an important locus to investigate and comprehend these two universal human activities and their mutual implications: language and work. In Brazil, the Research 103United States. But I can also highlight the use of headphones in contemporary offices or the migrant music that we can often hear in restaurant kitchens around the world as separate from the music played for the spaces reserved for restaurant patrons.The use of music at work takes part in the discourse practices of labor activities.With that approac...
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