"O que eu esperaria para o Brasil era uma atividade complementar desse belo labor dos nossos filósofos sociais. Era, aos estudiosos com gosto da investigação, um apelo mais freqüente aos métodos científicos de pesquisas, uma preocupação mais sistemática pelos problemas objetivos". (Francisco José de Oliveira Vianna, 1991) "De modo geral, a ligação entre o conhecimento científico e a filosofia que o sustenta não conta para o especialista que perdeu essa memória nos labirintos do treinamento". (Maria Sylvia de Carvalho Franco, 1970) O baralhamento entre público e privado enquanto ordens sociais e princípios distintos de orientação das condutas como uma marca da cultura política, da sociedade e do Estado formados no Brasil desde a colonização portuguesa constitui uma das construções intelectuais mais tenazes do seu pensamento social. E também uma das principais linhas que, com continuidades e descontinuidades, o liga à produção das ciências sociais posterior à institucionalização, particularmente na 49 *A realização deste estudo contou com o apoio da Fundação Universitária José Bonifá-cio.
Há trinta anos, em 1977, era publicada a primeira edição de Ao vencedor as batatas, livro dedicado ao surgimento do romance no Brasil, composto por dois estudos substantivos, um sobre José de Alencar e outro sobre Machado de Assis, precedidos por um ensaio teórico-metodológico, hoje célebre, "As idéias fora do lugar" -ensaio que tem sido muito debatido, e mal compreendido, talvez por conta de seu título provocador. Com o livro, o cientista social e crítico literário Roberto Schwarz lançava um dos programas reconhecidamente mais consistentes, embora controverso, de análise da articulação sociológica entre forma literária e processo social no Brasil, cujo desenvolvimento envolve, até hoje, pelo menos dois outros livros: Um mestre na periferia do capitalismo: Machado de Assis (1997) e Duas meninas (1999). Neste programa crítico-sociológico o autor dá continuidade, também, a uma perspectiva de seu professor, Antonio Candido, que sempre apostou numa crítica RBCS Vol. 23 n. o 67 junho/2008
* Este estudo é parte de pesquisas mais amplas ainda em curso, financiadas pelo CNPq e pela Faperj, que também vem envolvendo orientações acadêmicas. Agradeço a Maurício Hoelz Veiga Jr., Paloma Malaguti e Pedro Cazes. O estudo foi apresentado no GT Pensamento social brasileiro, durante o 36º Encontro Anual da Anpocs (2012), a cujos membros também sou grato.Em Homens livres na ordem escravocrata, Maria Sylvia de Carvalho Franco investiga as relações entre homens livres no Vale do Paraíba, ao longo do século XIX, com o objetivo principal de mostrar como, no Brasil, se constituiu um princípio mais geral de coordenação das relações sociais, que chama de "dominação pessoal", desdobrada no Estado e nas práticas de mercado. Com sua pesquisa, a autora não intentou, porém, caracterizar ou qualificar esse tipo de associação moral que ligava homens livres pobres e fazendeiros como marca de uma sociedade tradicional, ou atrasada, ou ainda incompatível com os processos de mudança social e o dinamismo que o capitalismo ia assumindo também entre nós. Em verdade, toda argumentação do livro visa, ao contrário, desmontar essa visão sobre a sociedade brasileira.
A consolidação nas duas últimas décadas do "pensamento social" como área de pesquisa no âmbito das ciências sociais praticadas no Brasil, fruto de um número crescente de trabalhos que têm explorado sistematicamente suas dimensões sociais, ideológicas, institucionais e cognitivas permite e suscita o desenvolvimento de novos interesses de pesquisa. Como o voltado para a dimensão propriamente teórica das obras que compõem o seu acervo primário, especialmente os ensaios de interpretação do Brasil e as pesquisas das gerações pioneiras das ciências sociais institucionalizadas. Problema que se encontra, até o momento, praticamente inexplorado. Em parte, talvez, como decorrência da compreensão da dinâmica da vida intelectual brasileira, também ela marcada sistematicamente pela recepção de ideias, como se essa inevitável "aclimatação intelectual" não pudesse produzir formulações relevantes no plano propriamente teórico, ou interpelações às premissas da sociologia clássica ou moderna. Ou, talvez, pela persistência de visões segundo as quais as ciências sociais, quando concebidas em acepção positivista e orientadas para o mundo empírico, já deveriam ter solucio-
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