Que fazer da ecologia política? Nada. Que fazer?" É com essa questão que o antropólogo e filósofo francês, Bruno Latour, abre o texto de "Políticas da Natureza. Como fazer ciência na democracia". Sua conclusão, após trezentas e cinquenta páginas, traz uma resposta direta: "Ecologia política!". Ou melhor, ecologia política numa reformulação radical. Considerando o abismo-aparentemente intransponível-entre a compreensão dos fenômenos naturais (a cargo da ciência) e a regulação da vida social (a cargo da política), o autor propõe neste livro um novo estatuto para as políticas da natureza. Ciência e política, como ressalta Latour (2004: 161) em sua crítica incisiva sobre a "Constituição moderna 2 ", não travam uma batalha entre dois domínios da realidade nem se defendem um contra a invasão do outro. Para Latour, é absurda 3 a divisão de humanos políticos, de um lado, e não humanos apolíticos, de outro, afinal ambos fazem parte da mesma sociedade ou do mesmo coletivo, como o próprio autor costuma definir 4. Sua proposta é a de um trabalho conjunto na "articulação do mesmo coletivo, definindo como uma lista sempre crescente de associações entre atores humanos e não-humanos". Para ele, toda proposta relacional entre "natureza" e "sociedade" (sobretudo as inúmeras tentativas tecidas pela ecologia política), continuam demasiadamente rígidas em certo nível de abstração-sua
ResumoTem por objetivo discutir e analisar questões referentes aos direitos territoriais de populações ribeirinhas no que diz respeito a novos usos e significados atribuídos às florestas de várzea, particularmente aquelas banhadas pelo rio Mapuá, município de Breves, ilha do Marajó. Discute-se sobre distintas percepções; a atuação de três grupos sobre o mesmo ambiente e as disputas em jogo que surgem das relações entre comunidades camponesas ribeirinhas, o Estado e suas políticas territoriais e uma empresa privada de negócios ambientais que desenvolve atividade vinculada ao mercado internacional de compensação de gases efeito estufa. Diante dos objetivos traçados, o presente artigo trabalha com uma combinação de levantamento e análise bibliográfica, documental, trabalhos de campo e entrevistas circunstanciadas com os diferentes atores envolvidos com a temática investigada. Assim, discutem-se a partir de uma análise qualitativa as coexistências e os antagonismos nas relações que se estabelecem entre as atividades regulares de comunidades rurais -seus usos econômicos e formas de convivência com a floresta amazônica -, a atual política de regularização fundiária destinada às áreas de várzea (particularmente às que são parte do Patrimônio da União) e a introdução de projetos de compensação de gases efeito estufa, especificamente os denominados REDD+ (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal). AbstractThis paper aims to discuss and analyze issues related to territorial rights of ribeirinhos with regard to new uses and meanings attributed to várzeas forests, particularly those bathed by Mapuá river, Breves, Marajó Island. This discussion brings forth different perceptions of three groups on the same environment and disputes that arise from relations between ribeirinhos, the State and its territorial policies and environmental businesses linked to the carbon market. Given the established objectives, this paper presents a combination of survey and literature review, document, field work and detailed interviews with the different actors involved with the theme researched. Therefore, coexistences and antagonisms in the relations established between the regular activities of rural communities -their economic uses and ways of living with the Amazon forest -, the current land policy aimed at várzeas and the introduction of a REDD+ project (Reducing Emissions from Deforestation and Forest Degradation) are discussed from the point of view of a qualitative analysis.
Nas últimas duas décadas, poucas obras no Brasil deram margem a controvérsias e especulações tanto quanto a construção da Usina Hidroelétrica (UHE) Belo Monte, na Volta Grande do rio Xingu, estado do Pará. Atualmente, dois anos após o enchimento total dos reservatórios e do início da operação comercial da UHE, a população do Médio Xingu, particularmente aquela que se encontra no trecho de vazão reduzida da Volta Grande, continua sobre forte ameaça frente ao projeto de mineração de ouro em escala industrial. Valendo-se da vazão reduzida do rio, em decorrência da construção das barragens e de um garimpo de ouro em operação desde a década de 1940, uma mineradora canadense pretende exaurir, em pouco mais de uma década, a jazida de ouro que sustenta diversas famílias agroextrativistas há três gerações. Diante desta complexidade, o presente artigo discute, a partir de um olhar da geografia política, os aspectos relacionados à busca incessante de recursos materiais na Amazônia e seus desdobramentos em termos de despossessão e das disputas territoriais.Palavras-chave: Volta Grande do Xingu; mineração de ouro; fronteira; despossessão; território. A POLITICAL GEOGRAPHY OF GOLD: ON THE FRONTIER, MINERS AND DISPOSSESSION ON THE VOLTA GRANDE DO XINGU Abstract: In the last two decades, few projects in Brazil have been so controversial and have generated as much speculation as the construction of the Belo Monte Hydroelectric Plant (HPP), on Xingu River in Volta Grande region, state of Pará. Four years after the total filling of the reservoirs and the beginning of the commercial operation of Belo Monte, the population living in Middle Xingu, particularly those located in the reduced water flow areas of Volta Grande region, continue to be affected by a major gold mining project. Taking advantage of the reduced river flow caused by the construction of the dams and gold mining operations since 1940s, a Canadian mining company is now intending to deplete the local gold reserves - that have sustained three generations of local families - in just over a decade. Considering this complexity, this paper departs from the perspectives of the movements of the capitalist frontier, to discuss the aspects related to the incessant search for material resources in the Amazon and its unfolding consequences in terms of dispossession and territorial disputes.Keywords: Volta Grande do Xingu; gold mining; frontier; dispossession; territory. UNA GEOGRAFÍA POLÍTICA DEL ORO: SOBRE FRONTERA, MINEROS Y DESPOSESIÓN Y EN LA VOLTA GRANDE DO XINGU Resumen: El concepto de territorio ha sufrido importantes transformaciones, requeridas tanto por las prácticas de su uso como por los cambios en las dinámicas del poder, especialmente en relación a los límites a los que se ven sometidas las relaciones sociales de poder debido a los cambios ambientales y las llamadas fuerzas de la naturaleza. Así como ya no se puede hablar de territorio sin hablar de sus bases "naturales", no se puede hablar de "poder" sin su profunda conjugación con las "fuerzas" de la naturaleza. Muchas personas que viven esta inseparabilidad enfrentan el terricidio, ya que la existencia de sus culturas depende de la interacción con un territorio específico que está siendo amenazado. La dimensión material, corpórea y/o “natural” del territorio es cada vez más importante, vista en la múltiple riqueza - la multiterritorialidad - de sus manifestaciones, involucrando el espacio de todos los seres vivos.Palabras clave: territorio, corporificación, naturaleza, terricidio, multiterritorialidad
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